quinta-feira, 30 de agosto de 2012

As nuvens não são de algodão

O pior da política é a criação de "causas" para benefício próprio. Quando estudante da graduação, participei de tímidos movimentos que tinham por intuito combater a retirada do termo "gratuita" do estatuto das Universidades Federais, que pregam a "Universidade como pública e gratuita". Nessa mesma época, vimos o horror de termos nossas instituições privatizadas pelo governo de ideologia neoliberal, que só não tentou privatizou a bunda (num termo educado) para não ter muita gente metendo a mão.
Em contrapartida, pelo seu insucesso, FHC baixou uma emenda autorizando, a grosso modo e sem o rigor necessário, a criação de inúmeras instituições de ensino superior particulares para formar profissionais de respeito e ser, portanto, de respeito também. A ideia fundante era a de enfraquecer as instituições públicas de ensino superior, em especial as da rede federal, o que faria com que o governo reclamasse sua privatização, alegando não haver subsídios suficientes para ele (o governo) ser o responsável pela gestão, manutenção e ascenção desse nível de ensino.
O problema todo foi que o tiro saiu pela culatra. Os empresários que resolveram ser donos de uma faculdade não tinham noção da imprtância e de quanto trabalhar com educação e programas governamentais dá trabalho. Também não tinham noção que haveria uma concorrência transloucada, ou seja, muitos querendo se dar bem sendo donos de faculdades, e pouca gente interessada em se qualificar para valer: muito mais por não terem a noção exata do que é um curso superior, nem ganharem o suficente para se manter em um curso que deveria ser por excelência legitimado como tal.
Como consequência, o fracasso preanunciado instaurou-se antes até do que o previsto. Não havia público o suficiente que pudesse custear sua própria faculdade, dentre tantas razões, devido ao Brasil ser mais subdesenvolvido do que se imagina. Isto implica dizer que há menos ricos e classe média estável do que possa imaginar nossa vã filosofia. Nesse sentido, diversas faculdades cerraram as portas na mesma velocidade com que abriram. Vários cursos foram fechados, sem sinal vital de que poderiam voltar a funcionar. O individamento transbordou e gastar com um curso superior passou a fazer parte dos planos financeiros de uma família: deveria se ver sobre a possibilidade de pagar uma.
Muitos levantaram a bandeira, mas bem poucos a sustentaram até o fim. A credibilidade de várias instituições, mesmo as já firmadas no mercado, foram colocadas em xeque. Foi um choque letal!
Esse fracasso fez com que as Universidades Federais se fortalecessem, pois elas não fechavam e estavam para todo o sempre com recursos para funcionarem, mesmo na contravontade de quem governava um país e  achava que investir em recursos para educação era o mesmo que queimar dinheiro numa explosão de caixa eletrônico. A ironia foi total. Passar nas particulares servia ou para colecionar aprovações, ou para se resguardar de uma não aprovação em uma instituição pública, ou mesmo porque não se garantia encarar uma. Outros diziam que recorriam às particulares porque nelas não há greve, falta de professores e outras tantas desculpas tão rasas quanto sem fundamento (esse discurso me parece daquele cidadão que não sabe brigar pelos seus direitos).
Com a entrada de Lula na Presidência, o mesmo do mensalão (embora negue), os ventos mudaram. A cara da educação mudou e os que queriam tê-la de forma institucionalizada, tiveram o acesso revisto e não precisariam mais vender a comida para comprar a cópia do livro. Lula, não sei se compreendeu, mas entendeu que o povo queria além de comida educação, diversão e arte. E deu. Vários programas idealizados há tempos por gente que sabe de educação sairam do papel e estão permitindo a democratização do acesso à educação. Programas que contemplam as várias classes sociais, respondendo aos apelos das várias lutas de classes, feitos por gente que tenta não tornar alheios os próprios brasileiros, que visam fazer de sua pátria idolatrada de direito.
Ainda há o que se fazer? Muito. Inclusive somar aos programas educacionais, políticas educacionais, pois qualque programa, a bem da verdade tem data de validade, e política pública não. O caminho conhecido não é senão, para começar, usar e aplicar 10% do PIB para educação. Só assim o PDE seria uma realidade alcançável, as greves seriam lendas (embora esta última seja uma luta válida) e a educação superior brasileira seria de fato Superior!
Isso não é uma missão só da Dilma, mas de todos os brasileiros que entendem que país grande é país educado!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O que ninguém não entende

Não acho piegas confessar fraqueza. Acho nobre demais, até. Ninguém é 100% forte, capaz, competente, uma fortaleza, que possa passear pela face da terra sem sentir dores, medos, insegurança, por estar ocupado demais sendo feliz e vivendo sua vida. Eu achava que isso poderia existir, mas ultimamente tenho tido mais certeza de que não.
As redes sociais estão aí para testemunhar os crimes imperfeitos. Quando não se está falando do que se é (na modalidade do perfeito) e o que lhe faz feliz, posta-se sobre o interesse que as pessoas possivelmente tem em sua vida. Em contrapartida, como modelos de fortaleza, os conselhos e nortes para solucionar o que não se tem parem na rede numa velocidade tão formidável, quanto mulheres parindo em hospitais públicos.
Eu vivia ocupada. Quando não estava trabalhando e/ou estudando,e stava pensando em que fazer para que não houvesse um depois vazio. Tudo já estava delineado e todos os planos e pessoas eu já tinha por perto. Aparentemente não me faltava mais nada. Até um medo inesperado, uma solidão transloucada, uma angústia terrível passar a fazer parte de mim e me inquietar. A inquietação é tão gigante, que até de dormir eu tenho medo. Tenho medo de sair a rua e algo me acontecer, tenho medo do que possa me acontecer amanhã exatamente por eu não ter controle da vida. Tenho medo de que aconteça alguma coisa com os meus. TENHO MEDO E NÃO SEI O QUE FAZER.
Aparentemente, tudo começou por conta de uma horrível pneumonia que eu tive. Fiquei com uma falta de ar horrorosa e senti medo de morrer sufocada e não ver meu filho crescer. Quando comecei a me recuperar da doença, passei a sentir meu coração disparar do nada, minha força se esvair e meu fôlego faltar e ter medo.
Ora, mas eu não era uma fortaleza intocável? E por que isso? Porque só controlamos aquilo que sentimos conscientemente. Do que forma nossa inconsciente não temos controle, só o que podemos saber é de nossos atravessamentos, sendo que dele nem sempre pdems alcançar o que nos atravessa.
Estas duas últimas noites sem conseguir dormir, tenho me deparado com uma Aline com fobia do desconhecido. Uma Aline que implora à Santíssima Trindade e a Nossa Senhora que não lhe abandone, porque ela tem medo de algo que não a deixa em paz e só lhe dá uma enorme vontade de estar só, embora a solidão a tenha apavorado também.
Hoje eu levantei pela manhã, com olheiras indescritíveis, chamei minha mãe e lhe disse em meio a lágrimas"eu preciso de ajuda". Gente, de repente descobrir uma total falta de controle sobre aquilo que eu mais achava ter domínio: minhas emoções!
Tentei me distrair durante o dia, mas eis que estou aqui sem ter com que ocupar minha mente, senão com um medo injustificável.
Seria histeria, Lacan? O que sei é que eu preciso de ajuda!

sábado, 4 de agosto de 2012

Onde está seu preconceito?

Uma garota america de 16 anos ganha ouro na ginástica olímpica. Isso por si só é a glória para um país feito os EUA. Ouro! Mas não foi. Deveria ser. Quase em coro no twiter, a comunidade negra reclamou que ela estava com os cabelos dessarumados. Ora, ela teve força, perserverança, determinação e técnica, mas devido ao cabelo estar desarrumado o ouro foi prata, ou melhor, bronze. Afinal, prevaleceu o preconceito contra sua raça, que levou o ouro, e o embaraçoso bagunçado de seu cabelo, que levou a prata.
Ela ser negra e ganhar ouro pelos EUA virou notícia. Não teria gerado essa polêmica toda, creio eu, se ela apenas ganhasse o ouro. Mas ela levanta a bandeira da hipocrisia estendida como salvação há 5 anos, quando foi lançada a campanha de um negro a Presidente dos EUA. Não abstaria sua competência? Foi um negro que deu sua vida contra o apertheide e passou outra parte dela em prisão domiciliar, mas vindo de um país de negros isso é natural. Ora, macacos me mordam, plagiando Gentili, somos uma raça só, da raça humana, então pra que segregar mais.
Vivemos uma era cruel contra os negros? Sim. Entretanto, já somos mais instruídos do que há  124  anos. Já pisamos na lua, armazenamos milhares de dados em memórias ultramicros, avançamos na área da saúde, conseguimos exterminar da face da terra milhares de doenças responsáveis pelo extermínio da raça humana, as mulheres conquistaram a igualdade trabalhista, etc. A garota lá, tem o privilégio de escolher quando engravidar, além de decidir se quer sangrar todo mês, pode ser independente financeira e emocionalmente se assim decidir. Poderia estar roubando e treinando para ser uma exímia dona de casa. Mas quis ser atleta!
Ralou para isso e o que ouviu repercurtir após ganhar lindamente sua medalha de ouro? Que seu cabelo estava desarrumado. Que ela deveria honrar a comunidade negra e cuidar da aparência em especial em um evento desse porte. E seu ouro? E seu esforço? E sua batalha?
O que os estados unidenses esqueceram foi que ela ganhou a medalha para um país inteiro, ela honrou seu país, não a comunidade negra americana especificamente. Ela me honrou como mulher, ela me emocionou com seu sorriso que simbolizava "eu consegui", ela se construiu como reflexo a milhares de meninas que sonham em carregar no peito uma medalha olímpica de ouro. Ela se retira das olimpíadas com a certeza máxima de missão cumprida.
E o que deveria ter escutado? É isso aí Gabrielle Dougla o mundo se orgulha de você! Seu ouro foi lindo, garota!!!