quarta-feira, 27 de junho de 2012

A educação que transforma

A batalha por um lugar ao sol, daqueles que acreditam que o estudo é sim uma das grandes armas para nos firmarmos na vida, foi o mote do Profissão Repórter de ontem, apresentado na TV Globo. Vidrei e vibrei com o programa, que mostrou relatos de pessoas, como eu, que há tempos dedicam esforços ao estudo, a fim de buscar retorno exatamente naquilo que ele proporciona.
Ao fim do programa, lembrei de um comentário feito por uma de minhas professoras no Mestrado, que afirmou que a intelectualização e culturalização amplia horizontes e perspectivas de trabalho, em contrapartida limita pessoas com quem você pode ter assuntos interessantes, que possam se desdobrar por noite e noites inteiras de bate-papo. Logo, que os interesses por pessoas e assuntos também mudariam.
Coincidiu exatamente com o que as pessoas que fizeram curso superior, especialização, mestrado e doutorado e que trabalham nas áreas de aplicação disseram: que elas mergulham no trabalho, nas leituras e escritas, por terem seus interesses silenciados pela ausência de alguém com quem dialogar.
Ainda não me sinto completamente assim, bem como sei que essa completude não me atingirá, considerando que minhas áreas de interesse são variadas. Não que eu seja eclética, mas é que transito por várias temáticas teóricas e literárias, que me proporcionam um livre bate-papo com pessoas de livres interesses. Mas sei, que alguns velhos assuntos já me cansam.
Há duas semanas, mesmo, estive na casa de uma colega e o pai dela foi a primeira pessoa com quem conversei sobre Giordano Bruno e a Heresia. Fiquei fascinada, pois todas as leituras que havia feito e guardado só para mim foram partilhadas com ele. Antes disso, estive na casa de outro amigo e ele simplesmente conhecia Lacan e Freud, mas conhecia mesmo, de saber, de citar, de compreender. Me fiz! Com uma grande amiga, sempre converso sobre Outro, Ethos e a questão feminina... debatemos sobre valores educacionais, desses que não se restringem a considerar como bom educador aquele que inova nas aulas (por sinal, essa crença tem que acabar). Há dois dias, estive com outro amigo, que debateu comigo a questão do Tempo, da Morte e dos Oráculos, que são vertentes a que dedico leituras desde a adolecência, com exceção da ideia que ele debateu sobre a morte, que me foi totalmente (e absurdamente) nova. Agora estou lendo um blog que apresenta reflexões e ironias que você nunca imaginava encontrar, de forma tão inteligente (até Pargom está por lá).
Aí, você vai cansando dos velhos papos de sempre, das mesmas piadas desgastadas, porque de repente seus assuntos emergem e você tem com quem partilhar de maneira profunda, fugindo da tautologia. A linguística tem funcionamento em todas as vertentes a que ela se propõe e você começa a entender que se matar estudando te proporciona algo além do que se espera.
Aí, você vai compreendendo a solidão e o sarcasmo que só os intelectuais tem. A ironia, a falta de paciência, a falta de amigos, que vejo alguns doutores comungarem, embora desse último tenho pavor, afinal sou adepta dos besteirol, que só so amigos proporcionam e ser visceral cansa.
O programa foi genial, inovador, com suas discussões sobre a crença nos estudos, sobre se transformar pela educação. Convergiu exatamente para a máxima apresentada de que a Educação transforma as pessoas, é essa educação que transforma a de quem toca e é transformado por ela, não as do discurso sobre. Porque tomar o clichê irrefletidamente estagna o país, mas seguir o exemplo de quem pratica a transformação faz com que o país avance!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Preservar a face. Como?

Preservação das faces é, como o próprio nome sugere, o ato de preservar as faces (ou a tentativa de) , de não se expor, ou de se expor. E por que faceS? Porque há a face positiva e a negativa. Uma da qual temos domínio parcial, outra da qual não temos domínio algum. Isso aponta para a questão de que tal fenômeno transita entre o ponto de tensão do sujeito, que ao mesmo tempo busca ter controle sobre o que diz, mas que também apresenta "descontrole" sobre tais escolhas.
Vejo, nas redes sociais, conselhos imediatistas, pedindo que as pessoas preservem suas faces. Tenho tido, ultimamente, especial interesse por essas postagens, pois ao que me parece as pessoas se julgam controladoras dos sentidos que emergem ao enunciar, quando na verdade os sentidos são construídos no momento da interação e é a partir dela que iremos analisar as faces. Sem termos controle disso, sem tentarmos preservar.
A Psicologia também apresenta um estudo relevante sobre a questão das faces, bem mais relacionável ao nome do que a Linguística. A primeira ciência, entende preservação das faces como algo ligado ao comportamento, e sobre o qual temos controle. Já a Linguística exclui a noção comportamental, uma vez que na AD o comportamento não é passível de se ligar aos fenomenos do discurso, assim  como firma a concepção de que não temos controle do que somos por sermos sujeitos heterogêneos. Logo, como preservar as faces senão temos controle total do que dizemos?
Nas redes sociais, tentamos construir uma imagem de nós no discurso. Quando postamos algo, buscamos atenuar nosso discurso com modalizadores, que revelam quem nós tentamos ser, mas que na verdade mostra quem nós somos. Isso acontece seja quando postamos mensagens pacificadoras, seja quando postamos mensagens que atacam. Para uma analista do discurso é aterrorizante ler o que circula na net, bem como postar o que se deseja postar, ou o que se gostaria de postar. Acho que uma especialista em AD jamais deveria circular na rede.
Por mais que tentemos construir imagens valorizadas de nós mesmo (face positiva) no momento da interação, não quer dizer que ela será compreendida como tal. Daí as amizades e inimizades, daí os ódios e amores. Isso porque, há o território do eu que é mostrado e o que não é mostrado, que se busca preservar de si (face negativa), para que o outro não nos invada, ou para fazermos com que ele veja somente o que queremos. Mas isso nem sempre dá certo, uma vez que toda interação é por si só um ato ameaçador.
Bem, então? Não podemos controlar as faces, mas podemos ser polidos, ou tentarmos, ao menos, sê-lo. E essa discussão, tendo por corpus postagens no face, é meu próximo objeto de pesquisa. De onde partiu tal ideia? Das postagens, como a que vvi ontem, de pessoas que clamam para que preservemos as faces durante as postagens. Ora, e como?

domingo, 17 de junho de 2012

Sobre o amor

Se "na natureza, nada se cria tudo se transforma" (Lavoisier), por que não compreender o amor como uma transformação cotidiana de sentimentos tocados? Graças a mídia, somos forçados a acreditar na felicidade amorosa a partir de um encontro extraordinário. Encontros sem graças (leia-se comuns) e amor construído não são exemplos suficiente para construir uma história com sabor protagonista, real, avassalador. É preciso roubar o fôlego, ter química, causar brilho no olhar no primeiro encontro, ocasionar frio na barriga, enfim... amor que é amor proporciona experiências surreais.
Não, isso não é amor! Quando amamos, amamos sem obrigação, sem retribuição, sem constragimento. Amamos porque simplesmente amamos, sem maiores explicações. E amor que é amor se constroi no dia a dia e não na idealização da pessoa amada, você ama simplesmente pelo que a pessoa é. Você ama o cheiro que ela inspira, o sorriso que ela lhe derruba, o esforço de suas rimas na ida ao trabalho. Você ama a forma como ela invade seu pensamento, pelas músicas que ela não compôs, mas que você entende como sua. E no contrário que se inspira, precisamos saber que o amor não machuca, não atormenta, não inibe, não envergonha. O amor só faz bem a quem o tem!!
E se o amor não acontece em uma relação, pode-se amar mesmo assim, na certeza de que não se ama só. Já diria  essa linda canção "mesmo que você não esteja aqui, o amor não há de ir embora". Ama-se pela felicidade do outro, pela sua vitória, pela sua tranquilidade, pela sua paz de espírito. Quem ama, conhece que não há o tempo do amor, ele é tão livre, quanto o livre arbítrio. O amor acontece no pensamento e na vontade de estar, mesmo estando só.
Quem ama, sabe que, em algum percurso da vida, que nem sabemos precisar, temos a certeza que a pessoa a quem dedicamos tanto amor, acaba por fazer parte da gente, da nossa história e que, por isso,
mas nem só por isso, o amor será eterno enquanto durar. Quem ama, nunca está só. É por essa certeza que Tom disse que "fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho".

sábado, 9 de junho de 2012

Foi hoje que eu disse thau

Ensaiei anos a melhor forma de me dizer pra ele. Quando era adolescente, escrevi centenas de cartas, toscas, impublicáveis, rasas, tal qual um amor de menina. As queimei quando me encantei no negro de outros olhos, levada até lá pela partida suave dele para outro ponto de vista. Reensaiei o dizer guardado a sete chaves, quando lhe vi plainando em minha vida, me enganando com um sim que insistia em estar longe de mim.
E o guardei novamente. Escrevi novas cartas, publiquei outros contos, reescrevi minhas poesias, armazenei seu olhar, lacei seu dizer, me musiquei em outros carnavais. E ele veio para mim, marcando seu ponto de intensidade por uns dias. Era tão platônico, que me desnorteava. "E foi tão corpo, que foi puro espírito". E ele se foi novamente, perder-se noutros espinhos, ferir-se com outras monotonias, experimentar outras solidões. Ele nada sabe sobre o amor, sabe sobre o sofrer, disso ele é vida.
Não queimei meus dizeres. Guardei-os, prometendo sua publicação para além de mim. Ganhei um beijo intenso, um passeio de mãos dadas, um encontro para depois, promessas mal dizidas, uma raiva desconcertante. Pronto: promessa cumprida! Disse-lhe das minhas ânsias de adolescente, dos esconderijos nas esquinas, da frustração pela negação e pela dor de lhe ver sofrer. Platônico? Não. Amor intocável, maduro, paciente, "ferida que dói e não se sente". Vivi a paciência intensa de lhe ver indo tão longe, para longe, para lá.
Eu nunca lhe tive e ele nunca me teve. Nunca partilhamos sonhos, beijos, cores, músicas, perspectivas. Mas hoje eu preciso ir, não porque não suporto sua ausência, já que ela sempre tive, mas exatamente porque não suporto mais sua ignorância subhumana de se deplorar e se perder diante da vida que ele nunca se permitiu ter.
Eu tenho um amor que pulsa, eu tenho a paz que me leva a sorrir... se ele soubesse o quanto isso é bom, permitia-se uma nova chance se construindo feliz. Porque sua dor dói em mim e eu já estou tempo demais longe de casa, e agora "estou voltando pra casa de vez..."

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Conselho não perguntado

Passei parte da minha adolescência escutando esse clichê, que até bem pouco tempo eu julgava como barato: "a vida é muita curta para não ser vivida". Ressalto que era o clichê, não a exata ideia do que ele correspondia, que eu achava super barato. Sua compreensão e a concepção mudaram de status nesses últimos dias, pois várias emoções me bombardearam, desde atitudes de amigos, passando por vivências pessoais, até escolhas repentinas de pessoas próximas a mim, que aparentemente estão vivendo um inferno pessoal.
A ideia de que a vida é curta é fato. Mas ela só é possível ser vivida intensamente se optarmos ou pelo sim ou pelo não, uma vez que o meio termo nos deixa pela metade, sempre. E estar nessa vida para ser mais ou menos uma coisa, ser feliz mai ou menos, estar satisfeita mais ou menos, é para qualquer um, não para quem sabe quem se é, o que quer e o que pretende levar dessa passagem pela terra.
Por esses e outros tantos motivos que não me rendo a qualquer emoção, mas também não deixo de sentir e dizer o que penso. E por essa mesma razão que detesto me imaginar numa história que fatidicamente vai me roubar fatias de emoções, com goles nada inusitados de ações desnecessárias. Como vivo me repetindo, detesto entrar em um "lugar" e não sair dele renovada. Detesto não degustar de uma boa originalidade e, principalmente, detesto me meter com pessoas bobas, que me fazem sentir mais boba ainda. Essas situações e seus resultados me fazem sentir desnuda diante da vida. E viver a vida é coisa que sei fazer bem.
Não no sentido de curtir, ir  a badalações, viver em festas, rodeada de pessoas, mas no sentido de viver minhas escolhas até a última gota. Me declarar, estudar, trabalhar longe, beber, ou seja, pagar os preços. Nenhuma decisão pode partir do nada, pois toda escolha nos leva a algum lugar.
Por isso, antes de pegar um porre, pense na ressaca. Antes de se declarar, pense na cara virada. Antes de querer estudar, pense na abnegação. Antes de fechar um contrato trabalhista, pense nos transtornos. Antes de pedir um beijo, pense no gosto. Antes de casar, pense no ônus. Antes de gritar, pense no ouvido tampado.
Mas saia do quarto, negue o travesseiro, saia do armário, busque um amor que valha à pena, em especial seu amor própro, afinal "a vida é muito curta para não ser vivida".

domingo, 3 de junho de 2012

Retrospectiva de emoções

Dia 16/02/2001, o locutor berrava enlouquecido os nomes dos aprovados no vestibular da UFPA. Não era um dia qualquer: era um domingo de carnaval. Além da festa de quem gosta de curtir a folia, podiamos aproveitar e gritar e espernear uma vitória, a primeira de muitas de quem traz no peito a garra de investir em conhecimento.
Em 2002, começamos a batalha pelo diploma de graduados. Foi uma caminhada louca e sã. Firmei grandes e sinceras amizades na academia, superei obstáculos, pensei em desistir, parei um semestre com a chegada do filho e em 2007 na hora da outorga, tendo minha mãe ao meu lado como paraninfa, virei e partilhei o momento com meu pai, que vibrava feito louco com o ápice dessa primeira grande conquista. Chorei, não acreditando no que havia conquistado, mas tamborilando a materialidade da coisa.
No mesmo ano já emendei o curso de especialização. Nunca na vida tinha estudado com tanto afinco. Madura e com planos já delineados, estava decidida pela busca do meu melhor lugar ao sol. Tirava dez em quase todas as disciplinas e ganhei o reconhecimento e a amizade de grande parte do corpo acdêmico da área de Letras da UFPA. À época da defesa foi um caos, uma vez que quem estaria na minha banca era a bambam em Linguística textual e sua (im)presença me causou o primeiro pânico acadêmico de minha vida. Dois dias antes de defender, tive febre, vômito e dores fortíssimas na costa. Tudo pelo abalo emcoional!
Mas essa etapa também fechei com chave de ouro: passei com excelente e com grandes elogios, quanto a minha atuação acadêmica. "Ela terá uma carreira promissora" professaram a Drª. Iaci Abdon e a Drª. Célia Brito.
Foi o impulso necessário para eu meter a cara no mestrado. No dia 20/12/2010, eis que sai o resultado definitvo do concurso e eu estava garantida na turma 2010-2012 da área de Linguística, da área de concentração em Ensino-Aprendizagem. As discussões foram o suporte necessário para apontar que havia algo de errado com a Educação e com os educadores. Foi um percurso longo, dolorido, exaustivo, mas que valeu à pena para que a 3 dias da consagração, eu pudesse revisitar esses últimos anos de dedicação acadêmica e dizer: valeu à pena!
Meus pais, meu filho, meus irmãos, cunhadas, sobrinhos, tios, primos e amigos (incluo aqui os professores) viveram com uma Aline intensa nesses últimos anos, uma Aline que trafegava entre a angústia e a libertação. Entre o medo e o desejo da vitória. Entre a loucura e a lucidez. Se alguém achava que eu não fosse conseguir pela minha ocilação de humor, precisa compreender, de uma vez por todas, que onde a Aline se inscreve, só lhe interessa sair de lá transformada.
Mas nada disso teria sido possível sem Deus, para renovar minhas forças. Quando exausta antes de dormir, eu lhe pedia "cuida de mim, porque eu não dou mais conta",  Ele na manhã seguinte me permitia levantar sem o menor peso na costa.
Quarta, dia 06/06, estarei lá, segurando em Suas mãos, no colo de Nossa Senhora, encerrando mais um ciclo. Estou tensa, mas dará tudo certo, eu creio!!
A todos que sabem o quanto eu caminhei para chegar até aqui: Muito obrigada!!!!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Novo olhar sobre amizade

"A amizade, nem mesmo a força do tempo pode destruir..." Não sei que força cármica nos uniu, mas não tenho dúvidas de que o encontro dos cinco não foi à toa. A princípio foram dois. Posteriormente, fomos cinco. Divindo uma casa, segredos, comida, espaço e humor. Já se foram três meses e tudo em harmonia.
Não há disputa pelo melhor lugar ao céu, nem pelo último biscoito do pacote. Há sincronia no diacronismo. Pudor na libertinagem. Risos no barbarismo. Rima no descompasso. Cada tem seu próprio lugar musical, embora não tenhamos delimitado nada. Cada um tem seu tempo, seu ritmo e seus infinitos problemas. E todos temos vontade de ficar "tudo bem" nesse espaço familiar novo para cada um de nós.
Buscamos superar as adversidades persistentes através da união. Viramos uma família abençoada, divertida e unida, como quase nunca se vê. Viramos uma família e isso basta. Amigos que se uniram ao acaso, e que vivem o limite do espaço e da dor da distância, que se deram as mãos, o apoio e o abrigo necessário, que só um convívio pode permitir, ou impelir.Moramos juntos na mesma casa e dividimos a mesma cabeça.
Foi bom. Me fez rever as amizades que cativo e cultivo. Me fez compreender que o conceito de felicidade e fidelidade são suportes para nos direcionar na vida. Nos fazem viver dores inimagináveis, preocupar-nos com o impossível e superar a distância mesmo estando perto.
Eu não sei como serão as relações futuras, nem se haverá um até um dia, o que sei é que desejo que essa força chamada amizade ensine-me mais do que minha pretensão de viver a vida.
O que seria da vida sem os meus amigos??