Eu não nasci gata, gostosa, sarada... Nasci pobre, pobre de marré, marré... Fora as longas cabeleiras, que por um longo período foram podadas por mim, nada mais chamava atenção. Sou sem gracinha, mas não sem sal. Não tenho nada que faça os homens me disputarem e batalharem por mim. Por essas razões não pude dar o golpe do baú e casar com um homem rico. Não pude virar maria chuteira e me divertir com inúmeros jogadores de futebol. Não pude enfeitiçar os homens a bancarem minhas vontades e distrações. Mas, sinceramente, NUNCA QUIS!!
Porque nasci digna e constantemente lavo a boca com sabão. Adoro arregaçar as mangas e enfiar a cara no trabalho, no estudo, em projetos, no samba e no rock. Fico orgulhosa de abrir a bolsa e pagar as minhas contas, além de abrir a boca para defender o que é meu. Ninguém pode apontar o dedo na minha cara e me acusar de periguete. Não dá nem pra eu me distrair, porque cair do cavalo exige tempo de recuperação, então se for pra cair que seja de sono. Se for pra eu me decepcionar, que seja para aprender a ser melhor.
Porque posso chorar por amor, pelo cara feio, sem graça e sem juízo. Mas jamais por um golpinho por uns trocados não terem dado certo. Posso entrar e sair de casa, estar sozinha ou bem acompanhada por quem realmente me interessa. Posso rir até a barriga doer das besteiras da vida, dos amigos e de minhas indiscrições. Mas os sorrisos são verdadeiros , fortes e fartos.
Posso ter medo do escuro, mas jamais de ser pega na mentira de um golpe qualquer. Posso comprar um livro interessante, para não me divertir com mensagens pornográficas. Isso pode se chamar independência, modernidade, fuga, ou outra coisa qualquer, mas eu prefiro chamar de minha liberdade de expressão. Por isso, não venha me dizer o que eu sou, devo ser ou deixar de ser, porque só o que é louco me interessa!
E por todas essas razões sou inteira, porque ser pela metade enjoa!!