Ela deu um sorriso, balançou o longo cabelo, vestiu-se e passou a apreciar a lua. Depois, lentamente, ofereceu-lhe um chá e saiu. Demorou várias horas. A bruma cintilava, o sorriso não se desmanchava e ela permanecia envolta em um misterioso e desalentador sorriso. Voltou tão imperceptível, como saiu.
Por vários instantes, ele tamborilou os dedos, ansioso, engenhoso, querendo ser mais que uma tecnologia. Chamou Karl, quis saber o porquê de ser o resultado do que é. Estava indignado com a ausência do hibridismo, da criação coletiva e protestou sobre o poder místico criado em volta de algumas pessoas. Enquanto (não) degustava de sua ânsia permanente, coisas que só os gênios vivem, rabiscou um protótipo de um helicóptero, ultraveloz, leve e antibomba. Amassou o papel, desvalorizando sua criação, tal qual os industriais, que não sabiam de onde certas ideias tinham surgido (e eram dele).
Lisa espreitava a conversa pelos cantos, inócua, tentando não transgredir, mas lutando para ser mais que algo surreal. Cada vez que era solicitada, buscava flertar com as brechas, que lhe permitiam ser mais que um ponto de tensão naquela conversa, naquele ambiente fantasmático. Mickail surgiu, antes que Karl lhe convecesse sobre a passividade da formação humana, e lhe disse sobre a transformação pela linguagem. Ele podia, portanto, ser sim mais do que um. Ser dois, ser duas faces, ser dois seres. Ser dois em um.
Loucura! Vender as medidas perfeitas, no afã do homem vitruviano, podiam fazer de mim, Piero, um homem ilustre? Os seres mitológicos eram-lhe mais poderosos pela sua ausência de tecnologia, pois o poder lhes vinha de dentro, não de máquinas limitadas pelo ponto de chegada da mente. Eram puros, também, e como isso lhe doía.
Lisa começou a inquietar-se e seu desassossego, o empurrou para frente do espelho. Sua inconsciência, era seu próprio consciente. Sua face, seu sorriso, sua áurea de mistério eram ele. Ele era híbrido. Ele era ela. O lago que Narciso se afogou refletiu-se em seu olhar. Já bastava de viver a vida tentando ser o gênio, a confirmação da soberania masculina, a inveja do mistério feminino. Queria dizer de si, mostrar o outro lado de sua alma, casada com seu Outro. Despiu-se e vestiu-se de sua fantasia secreta. Deslacrou-se. Mickail percebeu a que convergiu sua interpelação pela linguagem. Karl reforçou sua lógica da atividade e passividade. Era o descontrole, o caos, pairando a favor do controle total. As portas ficaram cerradas por dias. De dentro o que se ouvia era seu pedido de paciência, pois estaria terminando a obra que lhe consagraria, dentro de tantas consagrações e enigmas.
Ao sair, mostrou-se através de sua pintura, mas no lugar de compreenderem que a obra não era mais que o imaginário feminino de si próprio, buscaram interpretar o sorriso misterioso de lisa e descobrir quem era a moça retratada naquele quadro. Ele preferiu o silêncio, porque ainda é caótico um ser humano ser visto cmo híbrido numa sociedade de metrossexual.
O sorriso retratado revela, que ela sorria, mas não se sabe se era feliz!
Uau...
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