"Eu ontem joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado passar por mim, cartas e fotografias gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim. O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu e lendo os teus bilhetes, eu penso no que fiz. Querendo ver o mais distante sem saber voar, desprezando as asas que você me deu..." (Hebert Viana)
Acordei determinada a me organizar, por não aguentar mais minhas bagunças cotidianas, só não sabia que isso me deixaria um tanto devastada. Abri o armário vazio e pouco a pouco fui carregando meus livros para dentro de mim (já disse uma vez que o meu quarto é meu universo particular). Depois de organizá-los, decidi emendar a faxina e arrumar meu guarda-roupa. Nossa, foi aí que tive contato com meu passado, meus fantasmas, minhas alegrias, decpções e algumas coisinhas a mais.
Separei centenas de convites de aniversários, que sabe Deus se ao menos o aniversariante ainda os guarda. Vi restos mortais de flores que me foram dadas em momentos gratos, mas que ao tocá-las fizeram tilintar em meu peito emoções doloridas e verossímeis. Restos de cabelos, dezenas de fotografias 3x4 de pessoas que só habitam minha adolescência. Cartas escritas que nunca entreguei. Cartas de amor que recebi, mas o amor acabou, então pra que guardá-las? Bilhetes, souvernis inúteis, presentes lacrados...
Fui, no início, separando o que jogar fora e o que guardar, vai que alguém para testar minha sensibilidade me pergunta se ainda guardo alguma coisa me dada num momento de carinho. Li alguns bilhetes, uma carta gigante que meus amigos de colégio me deram, uma carta de amor-despedida, uma foto escondidinha no meio de outras coisas... e as lágrimas rolaram. Eu era sensível e não sabia. Depois das lágrimas, saí e comprei 5 stela artoir, voltei e coloquei a música do início deste post no último volume e cantei o mais alto que pude como forma de exorcisar meus fantasmas. Abri as caixas e meu passado e decidi, assim, simples, jogar tudo fora. Depois chorei de novo e fiquei pensado em o quanto sou idiota em sempre adiar decisões da alma.
Se existem várias formas de ser feliz, existem várias de ser triste. E escolher a omissão é uma forma arrogante de não se decidir nunca. Posso escolher viver a vida e pagar todos os preços por isso. Mas posso escolher simplesmente apenas fingir que a vivo e andar por aí de esquina em esquina pensando em que bonde subir agora. E sinceramente foi isso que fiz desde que um amor que vivi até a última gota se foi. Não me permiti viver mais nada, lutar por mais ninguém, chorar com alma, passar noites em conversa depressiva com meu travesseiro, ser covarde por conta de um frio na barriga.. não vivi mais nada daquilo que se chama amor. Vou vagando e concluir isso me doeu a alma. E as lágrimas rolaram de novo.
Deveria ter como herança a aprendizagem e não o coração gelado, nevoado de ressentimentos com a vida que me fez sofrer. Deveria ter a cabeça aberta e não livre de opressões sentimentais. Devria querer chorar de novo por amor e não sempre ficar desejando o bônus.
Mas depois de inbriada por essas emoções e agora pela manhã me senti tão outra pessoa. Com covardias reais, sentimentos banais e querendo me agigantar no presente que se apresenta e eu tento dizer "não, muito obrigada". Se valerá à pena, como saber? Posso sempre olhar pra trás e chorar, mas me prender no passado não é a melhor forma de viver a vida... E eu não quero que meu passado me perdoe, quero apenas me sentir livre...
"A gente leva a vida inteira pra entender a vida, dia após dia, sem imaginar... se recusando a acreditar que pra estar no paraíso, basta amar, basta amar... e me da uma vonatde de cantar uma canção..." (Lobão)
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Corajosamente vivendo...diga-me