Passei um tempo que me parecia interminável buscando me adequar as vontades de todos os outros. Ensaiava passos, buscava não esgotar os sorrisos, virava ao avesso, se preciso, para não desagradar e perder preciosidades camaleônicas. Eu temia um vazio que se quer conhecia, nem anseiava, apenas por seu sinal de existência experenciado pelos outros emblemarem um lugar vazio na minha estante.
Mas tem hora que cansa. Às vezes cansa rápido, às vezes cansa demais, às vezes nem cansa, mas está lá sem explicação, ou mesmo por explicação esdrúxula, desabitual, desafagável, lacônica.
Por cansar e por temer que as voltas que a vida dá fossem longas demais diante para minha implacável impaciência, resolvi ser mais eu e menos os outros. Resolvi parar de me importar com os comentários idiotas e lascinantes que cobravam um comportamento emoldurado para uma garota que é filha única.
Decidi não seguir o script, cortar as verbas, repensar editais, ser mais pólen e menos raiz. Neguei a vocação de mulherzinha, coitadinha, laidizinha. Fui mais macho que muitos homens quando precisei me desembainhar da saia da mãe. Levei rasteiras da vida, engoli choros e sapos, rezei baixo e desesperada, tive pesadelos inexplicáveis, me desprendi de amores imperfeitos, fiz contas incalculáveis, não superei o medo de altura nem do escuro, levei broncas desnecessárias, aguentei silêncios impiedosos, recebi um não que nem me foi dito, trabalhei no que não poderia, não aparei arestas selvagens, fui puro instinto, desfiz laços e me torturei com os nós, desisti, resisti, persisti, não consegui...
Tudo numa lacuna necessária, desvirtualmente afetiva, a fim de alcançar o ápice do que almejava por hora, por uma semana, por um mês, ou por uma vida toda.
Aprendi? Também. Mas, enfim, compreendi que a vida é feita de resistência, de resiliência, de autogenerosidade, de menos drama e mais comédia. Arregacei as mangas e me inscrevi na minha própria escola, lugar onde eu posso me reprovar e me recuperar de verdade. Onde eu posso lavar a alma e colocá-la para secar onde eu quiser. Onde eu posso ser mais eu!
Doeu, mas eu amo cada tijolinho alinhado, cada sementinha plantada, cada sorriso colhido e cada alma replanejada, pois eu planto sonhos para colher o que há de melhor em mim, inclusive amor, por isso não irei desistir, embora o coração não pense!!
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Corajosamente vivendo...diga-me