segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O sábio exercício da morte

Tudo acontece há um certo tempo e nem nos damos conta de quanto tempo perdemos. Não aquele tempo cronológico, mas o empreendido, e desperdiçado e despedaçado, nos pensamentos, nos eforços de um encontro proposital, nas agunias de um telefonema não recebido, que na sua espera de meio em meio segundo olhamos para o visor angustiadas em saber se não perdemos uma ligação... justamente a ligação dele. Até nos darmos conta de que ele jamais ligará para dizer o que sente. Talvez ligue para um saída, para um saber como se passa, mas só... para saber da gente não lhe interessa, porque em muitos casos ele é mais gente do que a gente. Ele é mais presente em nós do que nós mesmos somos.
Hoje, uma garotinha de 9 anos morreu atropelada. Ficou desconfigurada e de dentro do ônibus a comoção pela visão cruel de seu corpo destruído durou nada mais que 5 minutos. Depois todos voltamos aos "nossos lugares". Quem escutava música, recolocou o fone no ouvido. Quem lia, reabriu o livro. Quem conversava, retomou a conversa. E quem estava em silêncio, em silêncio continuou a viagem. Uns minutos depois a mãe de um amiguinho de escola do meu filho, sentou-se ao meu lado e me trouxe de bagagem mais uma notícia de morte. De outra criança, que engoliu uma bolinha e morreu asfixiada. Contou-me do desespero dos pais e até deixou escapar uma lágrima. 15 minutos depois ofereceu-me um empréstimo consignado.
É incrível, ninguém se importa com a morte, mais de quem a sente. Podemos nos solidarizar, porém nossa vida segue, o barco segue, o tempo segue. Senão seguirmos pairamos no ar e quem se inscreve é o passado, que se torna tão forte e horroroso que pode nos matar. Quando deixamos um amor, uma paixão tomar tanto tempo de nossa vida, estamos enterrados sem saber. É preciso morrer para algo, para deixarmos que outra coisa viva. Essa angústia de tempode desperdiçado por alguém que não nos quer é um rancorzinho danado, que não nos permite seguri. Cretinice pura, afinal só vale à penas estar com que nos quer.
É o exercício da escolha: quando você escolhe um caminho, nega o outro. E para mim isso é o exercício da morte: quando você mata uma coisa, deixa que outra viva. É difícil. Mas nesse nascer um resgate de nós, uma parte de nós que nem conhecemos se apresenta, mostra-nos outro caminho, vem com outro fôlego, da outros brilhos e nos conduz a outra história, que nada mais é o encontro com alguém que deixamos para tras, que matamos para que essa história que atormenta venha. E assim como sabemos a hora de começar, a hora do fim deve se apresentar coerente e cruel. Mas e daí?
O pior é que quando estamos caminhando no erro, na morte insolente que ilude e nos deixa achar que a vida está correta. É claro que como toda e qualquer boa ilusão, caminhamos achando que tudo está bem, mas quando vem a dor, ou as dores, é hora de morrer, é hora de se resgatar e se oprtunizar viver... grande, gigante e serenos...
Porque a vida está de passagem e não nós. E todas as chances e coisas que vivemos ontem, morreram para nós, então que história inúteis morram também e que nos deixemos experimentar pelo desconhecido que só quem está vivo sabe deliciar-se.

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Corajosamente vivendo...diga-me