Vivo me perguntando sobre o que é feito com os espaços não preenchidos deixados por nós na vida. Porque quando dizemos "não", ficam os "sins" para alguém dar conta do que nós não quisemos ou não podiamos viver. Para amigos próximos, não é novidade o mergulho forçado ao fundo do poço que dei há bem pouco tempo, bem como não é novidade a reviraolta que experimentei e gostei e pronto. E com espaço dessas duas aventuranças, o que foi feito?
Não costumo me perguntar "e se...?" até mesmo porque abrevio o rumo que cada um tomou e hoje sei quem estar em melhor posição na vida. Não digo financeiramente (até mesmo porque isso não é o essencial), mas digo moralmente, afetivamente e decididamente. Resumo-me afirmando que tive um passeio pelo inferno, para valorizar a experiência do paraíso. Fazendo uma releitura de Renato Russo, que em uma de suas brilhantes músicas escreveu "você quis partir e agora estou sozinho, mas vou me acostumar com o silêncio em casa, com um prato só na mesa" para reclamar tristeza e ausência, afirmo que essa solidão foi a melhor coisa que me aconteceu e que eu não só me acostumei, como gostei.
Mas e depois, quantos silêncios experimentei, quantos mais espaços vazios não foram lacunar, mas desejaram meu silêncio para alguém resolver? São espaços autênticos e ignorados. Por que não temos mais de uma vida? Por que vivemos de fazer escolhas? Por que não podemos amar e ser feliz com esse sentimento? Por que desejamos o trabalho e reclamamos das angústias e malogrados lançados com ele? Nem tudo é lucro, mas tudo é paixão.
O que sobra é a esfinge humana, recatada e recontada como suporte ao que nunca nem um filósofo, pensador, cientista soube explicar. O que sobra é um pedaço de nós, uma fatia grande de nossa essência e carência. Quem se ressente frente aos espaços deixados, vive de distorcer a realidade, de tentar viver outras ideologias e varre o que não suporta do espelho para baixo do tapete, junto com os lixos desnecessários, junto com sorrisos plásticos, flores artificiais e brinquedos de porcelana.
E hoje acordei pensando nisso por duas afirmações de entrelinhas deixadas ontem para mim: "a Aline escolheu a solidão" e "se a Aline soubesse o que é se apaixonar estaria feliz". A solidão e eu nos relacionamos tão bem, que vez ou outra ouso dizer que ela é meu mais bem fiel bibelô enfeitando a estante de minha alma. O uso dela em minha vida não é fulgás e em contrapartida é essencial, por me oportunizar uma revisita sempre que eu me pergunto o que foi feito com meus espaços vazios. A solidão é tão necessária à vida de um ser-humano, quanto a água nossa de cada dia. Quem tem medo dela, a vira pelo avesso por temer se deparar consigo. E eu sou uma eterna apaixonada por tudo que faço, por tudo que tenho, por tudo que trilho, por tudo que neguei, pelos homens que não amei, pelo menino maluquinho e pela estrela insossa.
Eu não ter escolhido ser amélia parece castigar quem decidiu sê-la. Parece que eu chego com meu furacão e levanto o tapete para onde várias coisas foram enviadas e reviro e revelo os espaços e vazios deixados incaltos, mas nem um pouco resolvidos.
E cada vez que me deparo com algumas pessoas eu me instigo com a inércia e o pouco volume de resoluções vividas, tudo porque eu resolvi viver intensamente cada coisa que me dou nesse paraíso chamado vida. E os espaços vazios, alguém que os cate, pois decisões descartadas não me pertencem mais. Eu não vivo entre a necessidade de pertencer e a angústiaa de me negar, por isso, recorrendo a Nietzsche, "minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….”
É isso...
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Corajosamente vivendo...diga-me