domingo, 27 de março de 2011

Velha infância colorida

Todos os dias ao acordar e me olhar no espelho tenho a sensação de que não envelheci, mas também carrego a incrível sacada de que o tempo só me fez bem, entre tantos que ele poderia me fazer.
Mas hoje rememorando meus álbuns (aqueles mesmos dos pesadelos da Clau e da Paulinha), angustiei-me do quanto perdemos um pouco de nós as duras caminhadas e piruetas que o mundo da.
Não sou mais a adolescente de cara cheia de espinha e dentes de causar inveja à Mônica do Maurício de Souza. Minha aparência é outra, melhorada, simpática até... E minha disposição de encarar a vida é outra também, só que piorada. Olhando as fotos foi inevitável não me deixar levar pelas loucuras que eu me permiti fazer. Minha mãe sempre tão controladora e desesperada, me proibia de quase tudo, restava-me, então, as escapadas, que não foram poucas, confesso.
Imagina chegar à escola e não ter aula, logicamente isso significava ter que voltar para casa e encarar as tarefas domésticas. Mas comigo não, vez ou outra escapavamos rumo ao Cotijuba, putz, isso mesmo era pura loucura, pura aventura. E sempre, sempre mesmo, valia à pena.
Hoje minhas aventuras são reduzidas, miúdas, não consigo se quer me oportunizar a mudar de vida, sair da barra da saia da mamãe, de onde eu sempre tentei escapar. Recebi uma proposta de emprego louca, oportuna demais e, simplesmente, terrível, pois aceitá-la significa mudar de cidade, de casa, de lugar favorito, de hábitos... Significa formar novos amigos, sofrer novas decepções, criar novos sabores e cores. E daí? E daí que não sou mais a adolescente destemida, que encarava qualquer desafio, qualquer desavença, qualquer aventura.
Crescer significa mudar. Significa deixar-nos pelos caminhos e encarar que dói sim estar ficando velha. Crescer dói, como agora entendo isso! E eu faço planos, planos de gente grande, se antes eu não os fazia como consegui chegar até aqui? O que significou para mim a caminhada? Entender que fica um pouco de nós nos caminhos, só isso? E o que trouxemos dele? Desesperança, desamor, medo, lágrimas?
Trouxemos de tudo um pouco e deixaremos mais de nós pelo caminho do que possamos imaginar. Numa tentativa de querer vencer a barreira do futuro, encostada na cama perguntei-me o que restará de mim se eu deixar que tudo que é meu fique pelo caminho? Restará a Aline que a adolescência roubou! Restará a Aline, pequena, grande, medrosa e destemida! Restará a Aline que hoje está se deixando render pelo passado de grandes novidades.
Eu não posso me recolher e simplesmente dizer eu fui. Preciso me recolher e dizer EU SOU! Não quero que me passado seja tão forte ao ponto de apontar e administrar meu medinho de viver a vida.
Eu mudei. Hoje divido minha cama de casal não mais com uma boneca de pano velha e arrepiada, divido com meu filho. Tenho história, tenho aventuras, sou feliz. Tenho moda própria e imprópria e a  terrível sensação de que nada mudou, de que minha vida ficou presa alí numa grata fotografia...
Sair dela e querer ser linda, cheia de pose, com telefone tocando e a irremediável embriaguês tão necessária as mulheres de fibra seja uma verdade.
Quero dizer quem fui e sou. Quero dizer que li Frida Kahlo e conheci a Claudiana. Quero dizer que amei Cecília Meireles e a ali estava a Marla Danielle. Quero dizer que chorei com a generosidade de Zilda Anrns e de minha mãe. Quero dizer que contemplei Raquel de Queiroz e a Paulinha. Quero dizer que fui feliz e sou a Aline, nem tão perdida, nem tão humana, nem tão nostálgica, mas a mulher que eu sempre sonhei ser... senão que história me conduziria até aqui?
A fotografia me mostrou minha trajetória surreal e porra louca. Olhá-la me devolveu o gosto pelo viver, as lágrimas de saudade e o sorriso que carrego no meu mais singelo aceite musical... Eu vou, estou aqui, eu quero... "Se chorei ou se sorrir, o importante é que emoções eu vivi" É assim que quero chegar quando os dentes se forem!

Comendo um delicioso creme de morango!

2 comentários:

  1. "E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração...".Espero que guarde sempre meu retrato em sua memória, pq eu levo o seu aqui - S2 - Aquela velha Aline jamais vai morrer, porque as mudanças serão constantes e vc esta indo super bem em todas elas.Lindo texto.Bjos

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  2. É importante frisar que suas fotos de adolescente são mesmo assustadoras. Tomo Dramim até hoje quando lembro

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Corajosamente vivendo...diga-me