Todos os dias ao acordar e me olhar no espelho tenho a sensação de que não envelheci, mas também carrego a incrível sacada de que o tempo só me fez bem, entre tantos que ele poderia me fazer.
Mas hoje rememorando meus álbuns (aqueles mesmos dos pesadelos da Clau e da Paulinha), angustiei-me do quanto perdemos um pouco de nós as duras caminhadas e piruetas que o mundo da.
Não sou mais a adolescente de cara cheia de espinha e dentes de causar inveja à Mônica do Maurício de Souza. Minha aparência é outra, melhorada, simpática até... E minha disposição de encarar a vida é outra também, só que piorada. Olhando as fotos foi inevitável não me deixar levar pelas loucuras que eu me permiti fazer. Minha mãe sempre tão controladora e desesperada, me proibia de quase tudo, restava-me, então, as escapadas, que não foram poucas, confesso.
Imagina chegar à escola e não ter aula, logicamente isso significava ter que voltar para casa e encarar as tarefas domésticas. Mas comigo não, vez ou outra escapavamos rumo ao Cotijuba, putz, isso mesmo era pura loucura, pura aventura. E sempre, sempre mesmo, valia à pena.
Hoje minhas aventuras são reduzidas, miúdas, não consigo se quer me oportunizar a mudar de vida, sair da barra da saia da mamãe, de onde eu sempre tentei escapar. Recebi uma proposta de emprego louca, oportuna demais e, simplesmente, terrível, pois aceitá-la significa mudar de cidade, de casa, de lugar favorito, de hábitos... Significa formar novos amigos, sofrer novas decepções, criar novos sabores e cores. E daí? E daí que não sou mais a adolescente destemida, que encarava qualquer desafio, qualquer desavença, qualquer aventura.
Crescer significa mudar. Significa deixar-nos pelos caminhos e encarar que dói sim estar ficando velha. Crescer dói, como agora entendo isso! E eu faço planos, planos de gente grande, se antes eu não os fazia como consegui chegar até aqui? O que significou para mim a caminhada? Entender que fica um pouco de nós nos caminhos, só isso? E o que trouxemos dele? Desesperança, desamor, medo, lágrimas?
Trouxemos de tudo um pouco e deixaremos mais de nós pelo caminho do que possamos imaginar. Numa tentativa de querer vencer a barreira do futuro, encostada na cama perguntei-me o que restará de mim se eu deixar que tudo que é meu fique pelo caminho? Restará a Aline que a adolescência roubou! Restará a Aline, pequena, grande, medrosa e destemida! Restará a Aline que hoje está se deixando render pelo passado de grandes novidades.
Eu não posso me recolher e simplesmente dizer eu fui. Preciso me recolher e dizer EU SOU! Não quero que me passado seja tão forte ao ponto de apontar e administrar meu medinho de viver a vida.
Eu mudei. Hoje divido minha cama de casal não mais com uma boneca de pano velha e arrepiada, divido com meu filho. Tenho história, tenho aventuras, sou feliz. Tenho moda própria e imprópria e a terrível sensação de que nada mudou, de que minha vida ficou presa alí numa grata fotografia...
Sair dela e querer ser linda, cheia de pose, com telefone tocando e a irremediável embriaguês tão necessária as mulheres de fibra seja uma verdade.
Quero dizer quem fui e sou. Quero dizer que li Frida Kahlo e conheci a Claudiana. Quero dizer que amei Cecília Meireles e a ali estava a Marla Danielle. Quero dizer que chorei com a generosidade de Zilda Anrns e de minha mãe. Quero dizer que contemplei Raquel de Queiroz e a Paulinha. Quero dizer que fui feliz e sou a Aline, nem tão perdida, nem tão humana, nem tão nostálgica, mas a mulher que eu sempre sonhei ser... senão que história me conduziria até aqui?
A fotografia me mostrou minha trajetória surreal e porra louca. Olhá-la me devolveu o gosto pelo viver, as lágrimas de saudade e o sorriso que carrego no meu mais singelo aceite musical... Eu vou, estou aqui, eu quero... "Se chorei ou se sorrir, o importante é que emoções eu vivi" É assim que quero chegar quando os dentes se forem!
Comendo um delicioso creme de morango!
"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração...".Espero que guarde sempre meu retrato em sua memória, pq eu levo o seu aqui - S2 - Aquela velha Aline jamais vai morrer, porque as mudanças serão constantes e vc esta indo super bem em todas elas.Lindo texto.Bjos
ResponderExcluirÉ importante frisar que suas fotos de adolescente são mesmo assustadoras. Tomo Dramim até hoje quando lembro
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