segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão!

            Tive a sorte de ser uma criança dos anos 1980, tão famoso, tão explosivo tão reverenciado. E tenho o azar de ser uma adulta nos anos 2000, tão demagogo, tão sujo, tão esgotado... TÃO TRIPUDIADO.
            Só amargo a pena de não ter vivido a revolução cultural, artística e política daquele maravilhoso ano, mas dele carrego a parca memória de tempos bons, onde o foco não era o simulacro, mas a abertura revolucionária a tudo que pudéssemos degustar. Vulgarmente falando: era tudo junto e nada misturado. Tão, mas tão diferente dos tempos atuais.
            Em 1980, mergulhamos em acontecimentos importantíssimos, como a publicação do padrão ethernet, a ascensão dos ícones da música que diz alguma coisa, a fundação do PT, o boicote das olimpíadas de Moscou pelos Estados Unidos, etc... etc...etc... No decorrer e no final da década experimentamos mais emoções como o nascimento do primeiro bebê de proveta no Brasil, queda do muro de Berlim, movimento Diretas Já... A multidão ia às praças!
            Desses anos herdamos bons e maus gostos. Mas a galera se desfez, os grupos deixaram de tocar e a multidão ainda vai às praças, porém para dançar axé, ir atrás do trio, dançar forró universitário e fazer revolução com roupas de grifes e hits da moda. A bunda e a eguinha pocotó eram mais populares que o óculos posto numa vista cansada de ler. Os bichos escrotos saíam dos esgotos e invadiam nossos lares. Um discurso hipócrita e podre de que uma nova ordem mundial era preciso faliu a instituição mais importante do mundo: a família. O rock colorido e o corte moicano é a ação autorizada e padrão do momento. As mulheres que queimaram sutiãs por melhores salários, em outros tempos, não conseguiram se quer ser respeitadas em suas conquistas.
           Mergulhamos num irracional orgulho machista, na discrepência dicotômicas tidas como pares corretos. Assim, achamos normal ganhar tripla jornada e achar muito orgulhoso fazer tudo de salto alto. Assumir o padrão mãe solteira e achar benévolo dormir só e angustiadas com olhos que não quietam aos julgamentos. Precisar da Lei Maria da Penha para nos fazermos respeitadas e levantar a bandeira da causa. Termos a velocidade dos 1000megabyte e dia após dia morremos pelos encontros da internet provocados pela carência estarrecedora. Uma passagem fortuita e angustiante.
            Agraciamos o fator político e nada fazemos contra a corrupção instaurada pelo/no governo que fez história. Não temos amigos para fazer corrente e pintar a cara para mudar nossa versão. Publicizamos em sites de relacionamento nossa vida medíocre como a mais perfeita do mundo. Vendemos alegria, quando compramos a solidão desse mundo que abduz. Dessa década que não seduz. Dizemos-no livre, mas somos incapazes de viver a vida com todas circunstâncias em que ela se apresenta.
            Para quê? Para nos trancarmos em casa com medo da polícia e dos ladrões. Para comprarmos CDS e livros para decorar a estante e divertir uma embriaguez medíocre. Para expormos nossas bundas, fazermos movimentos incestuosos nas danças erotizadas. Para termos as crianças como consumidoras e degustadoras de tecnologia que corrompe. E para, nós mulheres, sermos tratadas de putas, porque umas de fato evoluíram e outras se perderam e confundiram a cabeça dessa sociedade que diz que aceita, o que se quer abre os olhos para enxergar.
            Teria valido à pena evoluir mesmo com salto baixo, decote coberto, paixão e casamento construído, senão tivesse existido bunda, peito, libertinagem de mulheres que se intitulam livres, mas que privam de liberdade àquelas que realmente o são, como eu!
            Viver em 2000 é delicioso, mas uma aventura incalculável, uma jornada de padrão internet, via celular, GPS tão promíscua que cortam o tesão e enganam aqueles que acham que ler, se apaixonar, discutir política, fazer economia, ter papo a conversar, assuntos a tratar é o menor êxtase que se pode experimentar. Eu sou livre, profundamente livre... faço tudo desmedido, entretanto sem explicações bundásticas para dar. Não sou intelectualizada, trabalhadora, mãe, mulher, independente,politizada, livre à toa.
            Então meu dinheiro precisa ter valor, minha independência precisava ser valorizada, minhas 12horas diárias longe de casa tem que valer à pena, meu chopp tomado numa mesa de bar precisa ser livre... porque “sou rainha do meu tanque, sou Pagu indignada no palanque” (Rita Lee).

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Corajosamente vivendo...diga-me