sábado, 3 de setembro de 2011

Vivendo o por do sol



Em um sábado de julho do ano passado estava um tanto melancólica. E como certos estágios emocionais redirecionam nossa forma de ver a vida, as coisas e as cores percebi uma diferença no sol se pondo, descendo, se escondendo. É como se junto com ele minha alma estivesse também se pondo para no momento certo nascer de novo. Tive a sorte de contemplar esse maravilhoso entardecer e estar na hora certa, no lugar certo e com a máquina na mão para registrá-lo. Fiz alguns outros registros não menos encantadores e olhando-os antes de deitar, com o coração apertado, percebi que nem sempre estamos no lugar e no direcionamento certo.
Agora sentindo o entardecer, veio-me a mesma sensação de melancolia. De ausência de sentido de algumas coisas, uma saudade irretocável, um arrependimento entristecedor, a falta de um abraço e de um colo em que eu pudesse sentar minha cabeça e viver aquela sensação como se fosse a melhor coisa do mundo. Queria dar ao meu coração um lugar para se por, para ir lá passar à noite, refazer-se e voltar explêndido, tal qual o exercício e o ciclo do sol. Queria que meu coração fosse retribuído, tivesse uma chance nova, queria receber um telefonema surpresa e um pedido de vontade de me ver. Queria ser despertada com uma mensagem de saudades, com uma impressão qualquer de que eu faço falta e importo a alguém. É melancolia e sentimento de rejeição, sim, despertados justamente por eu estar no lugar e na hora errada há mais ou menos um mês. Despertado pela minha irreparável desatenção em me encantar pela pessoa errada.
E a sensação que me amarga é saber que de quem eu esperaria receber é exatamente quem nunca vai me da e de quem eu recebo é a pessoa mais maravilhosa que poderia estar em minha vida, mas que não me encantou, e isso estar me atormentando demais.
Ele me liga, diz que eu o faço bem, vem de longe só pra me ver e me agradar com chocolate, desmarca compromissos para estar comigo, da uma passadinha no fim de meu dia de trabalho apenas para dizer que precisava me ver, acorda-me com uma msg estimulante, topa a pizza tão adorada, leva coca-cola para matar minha vontade, reclama da minha ligação não dada, das mensagens não respondidas, mas mesmo assim está ali comigo. E eu insisto em olhar para o lado errado, em sonhar com outro abraço, outro telefonema, outras mensagens, outro olhar que nunca virão para mim.
Coisas divergentes, tal qual o encontro ao amanhecer do sol com a lua: cada um no seu espaço, agraciados pela distância, mas se contemplando e nunca se tocando. O que me sustenta é que pior que não ser retribuída numa paixão, é não se apaixonar nunca mais.
Apesar dessa sensação estou feliz, pois sempre tiramos lições de tudo que nos cerca, e após eu contar-lhe o porquê de minha ausência óbvia em viver um relacionamento nos moldes que ele quer, ele me disse que me espera porque eu sou especial demais para me perder por vaidade. Então, entendo que estamos sempre esperando, sempre se pondo, para renascermos e viver essa lição do sol, quantas vezes seja necessário para acordarmos de um dia nublado, transformados num alvorecer radiante que enlouquece qualquer um.
Não sei se viveremos algo, se trocaremos o beijo e as juras que ele espera. É bem capaz que viverei isso, pela minha característica óbvia de não contar e nem perder o tempo.
Mas no momento digo a pessoa errada, plagiando o Oscar Wilde, que se você não se atrasar posso lhe esperar a vida inteira.

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Corajosamente vivendo...diga-me