quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A arte do desencantamento

         Desencantar é mudar. Embora para algumas pessoas essa troca constante de opinião retrate a pouca personalidade, julgo conveniente tal mudança, afinal com o clichê de que somos bombardeados de informações com a era informacional, como não mudar de opinião com tantas mudanças de comportamento nos invadindo? É a arte do desencantamento pós-encantamento.
         Acho que Marcelo Tas foi categórico ao afirmar que “ser coerente é para pessoas rasas e vazias”. Penso que não mudar de opinião é se tornar apático e indiferente a todas as deliciosas mudanças em que mergulhamos na vida. Goeth e Goya foram exemplos claros de mudança de lado, de opinião e de atitude. Ambos apoiaram a guerra: o primeiro achava uma magnitude a Revolução Francesa, o segundo reverenciava o Napoleão, mas após experimentarem as atrocidades que a guerra acarretava mudaram de opinião, passando, inclusive, a combatê-los.
         E mudar de opinião é não ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Por isso que vivo me dando o direito de mudar, de gosto, de preferências, de estado de espírito. Isso é o retrato de personalidade sim. Porque essa atitude ativa diante da vida, mostra que acompanho o barco conforme ele navega. Já votei no PT e no PSDB, até no PMDB. Também já decidi anular meu voto. Fiz campanha para mulher no governo e me arrepiei em apoiar uma à presidência, assim como levo um susto a cada ministro demitido pelo levante da tal faxina ministerial. Faxina em meses de governo é algo suspeito. É claro que posso achar isso fato necessário depois de mais explicações que fujam ao tendencionalismo grotesco dos jornais. Mas vem cá: como que os eleitos para ocupar um cargo no primeiro mandato dela a surpreendem porque não eram confiáveis?
         Já li Paulo Coelho e o achava o mais espetacular dos escritores. Porém o combati ferozmente à vaga a academia brasileira de letras – muito retórico e superficial para o cargo. Mas para entender esse ritmo já fui coerente demais e achava até que a Lei Maria da Penha era um marco na ®evolução feminina. Precisei quebrar a cara, indignar meu peito com as danças erotizadas. Ter meu nome colocado no SPC por terceiros, ver meu país carregar índice vergonhoso de que apenas 12% da população tem curso superior, ser assaltada e feita refém, carregar abuso de andar em ônibus lotado, fedorento e quente etc... etc... etc...
         Até entender que mudar e desencantar fazem parte da dança e rebarba da vida, por isso completando o trecho ao contrário “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”.

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