Você está disponível? Ora, será que alguém de fato está? Acordar cedo para levar os filhos ao colégio. Fazer almoço. Sair para trabalhar. Reunião de negócios. Clientes para atender. Passar no salão para arrumar os cabelos (e esconder os brancos). Correr ao banco para pagar as contas pendentes e independentes. Arrumar a casa. Melhorar a arrumação do quarto das crianças. Ser amiga. Ser mãe. Ser filha. Checar e-mail. Ir ao dentista. Ufa! Não. Eu não estou disponível!
Ainda tendo esta certeza, o convite para uma fuga na quinta foi tentador. Nossa, como eu queria ter coragem. Mas, eu não estou disponível. Não nesse caso, porque se o coração disparasse nada mais teria tanta importância: eu arranjaria a disponibilidade necessária e minhas tarefas poderiam esperar.
Se viver tem que ser pertubador, contrariando um pouco Martha Medeiros, por que as estações do ano são repetidas para ela também? Censura é pertubadora, limites também. A única pertubação no viver está na vontade de viver certas loucuras que nos propõem, e nós, mero mortais, ficamos medindo as coisas, contrariando emoções.
Ele ainda não desistiu e eu continuo aqui na resistência, tal qual o herói. Acho que sua maturidade e seu defeito na mão esquerda me assustam mais do que deveria. Ou seja, não tocou o coração. Assumo, contudo, que ele é maravilhoso - como eu gostaria de tê-lo conhecido anos atrás, na minha fase peralta, avassaladora. Convites para ir a SP, Fortaleza, restaurante japonês e outros lugares seriam brinquedinhos para mim. Eu, certamente, não estaria tateando no claro como estou, estaria pagando pra ver, sendo inteiramente pela metade nas indecentes asneiras que só quem é descomprometido sabe viver.
Eu estou disponível, sim? Sempre! Quem me prende são os Outros, que Pêcheux não me ouça!
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Corajosamente vivendo...diga-me