sábado, 3 de março de 2012

Dona da minha cabeça

Eu precisei bem mais do que duas semanas para sarar feridas que insistiam em não curar. Das poucas coisas que eu sabia sobre relacionamento, uma delas era que você se apaixona e isso uma hora passa, você se encanta e o encantamento pode se desfazer, mas quando você ama, ah, isso é para sempre, dura, não doi e toca o coração a cada encontro. Por isso, entendo bem a expressão "o que os olhos não veem, o coração não sente".
Saber isso é muito pouco quando o coração se sobrepõe à cabeça. Você acha que ama e pronto, quer ao seu lado a todo custo, sobre qualquer condição e abaixo de qualquer valor pessoal, enganadamente chamado por alguns de amor próprio. Precisei sarar feridas duras, pelo menos eu achava, uma de cada vez, é certo. Da primeira, busquei resgatar o "tempo perdido", pois achava que ter vivido uma relação intensa tinha me roubado um tempo que não volta, não se tem e não é nosso. Não fiquei amarga, porém triste e descompensada. Descolorida, desbotada, destoada. Da segunda, o estrago foi grande sobre o meu emocional. Perdi 13kg de peso e uma tonelada de sorriso dado.
Não foi o relacionamento não ter dado certo, em si, que me doeu. Foi a alegria desperdiçada e o afeto despedaçado. Foi a negação da gravidez, o dar de ombros à solidão, o isolamento forçado. Foram dias, meses, marcada na dor, culpando a vida por ter sido bruta comigo, quando quem o tinha sido era tão somente eu. E eu amarguei, foi a forma de encarar-me e de me devolver para o estágio das minhas certezas incertas.
E eu vivi toda a minha dor sem buscar compensações. Talvez por isso hoje sou tão descompensada. Depois que voltei do fundo do poço, o dar de ombros foi meu. Apoderei-me do direito que todo ser humano tem de conduzir sua vida para melhor e o fiz. Tomei nas mãos tudo aquilo que valeria à pena ter orgulho e usufrui. Decidi que ninguém mais iria me prender à angústia, muito menos à infelicidade e compreendi claramente, que ninguém vai me amar sem que meu amor próprio esteja inteiro.
E me vi mulher. Com vontades próprias, inclusive amores. Com um amor gritando para ser vivido, mas resguardado no seu lugar de origem. Com paixões clandestinas, ironia refinada, uma burrice hilária, uma inteligência moderada e sonhos abertos para visitações e revisitações também. Sou dona do meu lar e do meu corpo. E ao contrário do que muitos pensam, resgatada da superfície do trivial.
O que tem para eu fazer, a propriedade é minha, pois sou dona dos meus direitos. Sou dona da minha cabeça.
Mas eu demorei bem mais do que alguns dias para me redescobrir. E hoje sei que podemos nos apaixonar por aí... Mas o amor, ah, este é para sempre e só quem se tem, sabe a quem se tem!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Corajosamente vivendo...diga-me