Eu precisei bem mais do que duas semanas para sarar feridas que insistiam em não curar. Das poucas coisas que eu sabia sobre relacionamento, uma delas era que você se apaixona e isso uma hora passa, você se encanta e o encantamento pode se desfazer, mas quando você ama, ah, isso é para sempre, dura, não doi e toca o coração a cada encontro. Por isso, entendo bem a expressão "o que os olhos não veem, o coração não sente".
Saber isso é muito pouco quando o coração se sobrepõe à cabeça. Você acha que ama e pronto, quer ao seu lado a todo custo, sobre qualquer condição e abaixo de qualquer valor pessoal, enganadamente chamado por alguns de amor próprio. Precisei sarar feridas duras, pelo menos eu achava, uma de cada vez, é certo. Da primeira, busquei resgatar o "tempo perdido", pois achava que ter vivido uma relação intensa tinha me roubado um tempo que não volta, não se tem e não é nosso. Não fiquei amarga, porém triste e descompensada. Descolorida, desbotada, destoada. Da segunda, o estrago foi grande sobre o meu emocional. Perdi 13kg de peso e uma tonelada de sorriso dado.
Não foi o relacionamento não ter dado certo, em si, que me doeu. Foi a alegria desperdiçada e o afeto despedaçado. Foi a negação da gravidez, o dar de ombros à solidão, o isolamento forçado. Foram dias, meses, marcada na dor, culpando a vida por ter sido bruta comigo, quando quem o tinha sido era tão somente eu. E eu amarguei, foi a forma de encarar-me e de me devolver para o estágio das minhas certezas incertas.
E eu vivi toda a minha dor sem buscar compensações. Talvez por isso hoje sou tão descompensada. Depois que voltei do fundo do poço, o dar de ombros foi meu. Apoderei-me do direito que todo ser humano tem de conduzir sua vida para melhor e o fiz. Tomei nas mãos tudo aquilo que valeria à pena ter orgulho e usufrui. Decidi que ninguém mais iria me prender à angústia, muito menos à infelicidade e compreendi claramente, que ninguém vai me amar sem que meu amor próprio esteja inteiro.
E me vi mulher. Com vontades próprias, inclusive amores. Com um amor gritando para ser vivido, mas resguardado no seu lugar de origem. Com paixões clandestinas, ironia refinada, uma burrice hilária, uma inteligência moderada e sonhos abertos para visitações e revisitações também. Sou dona do meu lar e do meu corpo. E ao contrário do que muitos pensam, resgatada da superfície do trivial.
O que tem para eu fazer, a propriedade é minha, pois sou dona dos meus direitos. Sou dona da minha cabeça.
Mas eu demorei bem mais do que alguns dias para me redescobrir. E hoje sei que podemos nos apaixonar por aí... Mas o amor, ah, este é para sempre e só quem se tem, sabe a quem se tem!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Corajosamente vivendo...diga-me