quinta-feira, 25 de agosto de 2011

No céu e nas estrelas

Hoje voltando do banco, morrendo de fome e calor, com vontade de ir para casa e não para o trabalho, fui surpreendida com um telefonema, um convite, um aceite, uma declaração de saudades. Um amigo de quem eu era o xodó, ligou para dizer que estava com saudades de mim, que precisava conversar e que se eu topava um almoço com ele. Fomos. O papo rolou solto, relembramos nossa adolescência, nossas primeiras caminhadas rumo à independência, nossos sonhos, nossos planos.
Rimos muito!
Em um determinado momento ele me disse assim: "Aline, tenho a  impressão de que você ainda não desceu do céu, nem das estrelas". Ele me silenciou. Ele me disse que estava para pirar com a vida dele, que ele se perdeu nos planos, que mais alguns minutos e ele desabaria não sabia se para o bem ou para o mal. Então, mais uma vez ele me surpreendeu ao dizer que questionava tanto às direções que eu, num passado super recente, dei a minha vida: minhas recusas àquilo que era obrigatoriedade numa sociedade machista e que ele sendo homem não teve coragem de fazer.
 Ele não está feliz! E pensando em tudo que conversamos, lembrei de Lobão cantando "as pessoas enlouquecem calmamente e VICIOSAMENTE SEM PRAZER". E ele enlouqueceu desprazerosamente ao desenhar cada minuto de sua vida, inclusive em dizer que casaria aos 30. Bonito do jeito que é, não foi difícil arranjar a esposa. Ele batalhou pela vida a dois, está bem sucedido e agora lhe falta algo, talvez o céu e as estrelas de onde eu não desci. E ele me fez ter a certeza de que eu não estou errada nas minhas decisões e opções em querer um pouco do olhar do respeito e da consideração. Contei-lhe sobre meu coração e de minha decisão de ir embora. E ele disse que é isso que lhe falta: a decisão de ir embora!
Agora questiono-me de quantas vezes eu precisei ir embora? E de quantas vezes ainda precisarei ir? De quantas vezes terei amigos dizendo para eu não desistir? E de quantas vezes serei convidada para dizer a um amigo que não desista? De quantas vezes serei agraciada para ser companhia e na verdade o consolo será meu?
Reforço minha atitude da intensidade diante da vida. De que me adianta ter medo se eu nem sei sobre o amanhã? Então, de que eu de fato terei medo?
Ele quer buscar uma saída, uma solução... Eu lhe disse que saisse do trabalho mais cedo, faltasse um dia que ninguém sofrerá com isso, faltasse aula para ficar agarrado com a pessoa de quem gosta, andasse descalço na areia, rolasse de rir de um filme romântico (é tudo ilusão essas historinhas quadradinhas), escutasse música num volume bem alto e cantasse mais alto ainda, se declarasse, jogasse tudo para os altos e começasse de novo e que ele encomendasse uma pizza gostosa num final de tarde e pelo amor de Deus me chamasse pra compartilhar com ele. E que ele aproveitasse o dom raro da honestidade que nós temos, usasse o olho no olho e dissesse para sua "esposa" que um caminho só existe quando a gente passa... Ele disse ter medo, mas eu lembrei-lhe que sempre podemos voltar atrás... Ou não!
Bem, resgatando um pouco: acho que ele se programou tanto em organizar sua vida para vivê-la depois confortavelmente, que agora se deu conta de que ele não tem vida para viver... E pensando no céu e nas estrelas em que estou, segundo ele, emendo com Hebert Viana para explicar a trajetória de meu amigo
"Ele ganhou dinheiro, ele assinou contrato e comprou o terno, trocou o carro. E desaprendeu a caminhar no céu... E foi o princípio do fim."
Hoje ele me fez ganhar o dia, embora ele tenha dito que quem ganhou foi ele. Esse meu amigo é um irmaozinho que a vida me deu e como eu o quero bem, caminhando no céu e nas estrelas...

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Corajosamente vivendo...diga-me