De todas as necessidades que tenho, a de escrever é-me a mais prazerosa e poderosa.Cada coisa que me envolve estará aqui no meu canto, no meu tempo, na beleza do escrever, no encanto das palavras!
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Eu era um Lobisomem juvenil
Eu, complexamente, amo essa música. Ela desperta em mim uma emoção gigante todas às vezes que escuto. Choro, sempre. Viajo, sempre. Canto alto, sempre. Dedico-LHE, sempre!! Uma pena que o meu coração pense, porque eu não o espero mais!!!
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Amor ao que passou e ao que vem
Espere por mim, vida linda, espere que eu chego já... Quantas vezes quis dizer isso à vida, com vistas ao descanso conquanto a vida repousaria me aguardando? Quantas vezes quis pedir ao sol que aguardasse mais um pouco seu explendor para que eu pudesse me conservar mais um puco na cama? Quantas vezes clamei por um dia com 32h? Quantas vezes desejei que a música não acabasse, à noite que se prolongasse, os desenhos que brotassem?
Ainda bem, que a vida não parou para eu me ajustar!
Tive que ser Aline... viver o Batista... e intensificar o Rodrigues... e nesses 31 anos, hoje faço um retrospecto do que foi este último ano para mim, a partir da influência de cada uma dessas partes que moldam minha história e trajetória de força, vitórias, comemorações, tristezas, renovações, reprovações, alegrias, amor e esperança.
A começar pelo Aline: única parte tributária a mim com um floreio de exclusividade. Neste último ano quis trazer para perto de mim pessoas que eu acreditava ter um potencial enorme para ir além do que já tinha, que no entanto estavam estagnadas há tempos. Lutei, batalhei chamei à luta, entretanto sempre sobressai um dos meus grandes resplendor neste tecido vital com prazo de validade indefinido: faça sua parte, mas não gaste seu latim. Ser Aline é potencialmente ser solidária e generosa às causas pelas quais lutas para si, mas que gostaria de dividir com os outros, para somar alegrias e vitórias. Mas a Aline detesta qualquer cheiro de sabotagem personal, ou seja, gente forçada que finge, que não investe em si e burla a inteligência de pessoas burras, fazendo-lhes acreditar ser aquilo que nunca se esforçaram para ser. A Aline gosta de transparência, razão pela qual dá aos outros o direito da dúvida através do benefício da palavra. Esse ano errei com duas pessoas, que julguei sem ouvir a outra verdade. Fui buscar acertos, pois não poderia findar este ano, hoje, com essa dúvida na cabeça. A conversa lacrou que há cerca de um ano vinha notando.
É bem verdade que sou assim por herança genética e ideológica do meu lado Batista. Os Batistas são de raça, de personalidade, de grito. Não é qualquer chameguinho, voz doce, floreios que nos ludibriam. Somos atentos e unidos, o que nos remete a saber ouvir e falar uns aos outros, seja na alegria ou na tristeza. Somos honestos mesmo e sabemos honrar nossas próprias palavras, conforme nossos avós ensinaram aos nossos pais. Superamos adversidades inenarráveis na vida, mas não levantamos como bandeira de causa para "atravancarmos" admirações. Somos batalhadores, pois vimos a batalha contra a fome, frios e solidão travada por nossos pais para que a nós não faltasse nada, em especial amor. Temos o cordão umbilical atados uns aos outros e sempre nos importamos intensamente com o próximo, consoante prega o cristianismo a que devotamos com amor. Não nos desdizemos e dizemos posteriormente o que somos sem antes termos sidos. Somos Batista, aqueles que são conhecidos como "mexeu com um, mexeu com todos". Família enorme, que preza pela família. Por isso, nunca neguei batalha, embora tenha dormido este ano com alguns medos. Mas com boa Batista que sou mais um ano não repeti discursos e levantei vários trofeus, frutos de minha batalha.
Dos Rodrigues reforcei o amor solidário, o exemplo de família e o apreço pelos estudos e trabalho. Reforcei o dom da sinceridade e o amor pelas palavras, talvez seja por isso que sou tão apaixonada por elas. Aprendi que aquilo que não te faz bem, não precisa estar contigo: descarte. Todos merecem uma segunda chance, menos aqueles que não se dão nenhuma. Todos merecem ser ouvidos, menos aqueles que não se escutam. Todos merecem uma retratação, menos aqueles que irão continuar no erro. Vire as ccostas e continue sua batalha tendo sempre os dois lados da moeda em seu bolso esquerdo: você precisa do exemplo do bem e do mal, aprenda a dosar! Por isso, que mantenho meus amigos de fé e de luta há tempos e me orgulho de suas batalhas, bem como mantenho por perto (no bolso esquerdo) exemplos de quem não quero ser, o que chamo como o lado avesso do espelho. Esses exemplos eu não invejo, porque não quero ter o que sempre batalhei para não ser.
Este ano, como já mostrei no post anterior, foi lindooooo... Eu gostei de tudo que conquistei e me livrei, graças a Deus! Não teria conseguido nada, se a cada amanhecer não colocasse nas mãos de Deus meu dia e minha vida e de tods que eu amo, nem teria conseguido nada se não tivesse em oração pedido que ele me desse força para alcançar o amor e me livrar de todo o mal.
Obrigada, Pai, eu cheguei a mais um ano bem vivido, orgulhosamente vivido e tudo que sou, tenho, serei e terei eu dedico a Ti, que sempre estiveste me acalentando e me dando forças para seguir. Obrigada, por não deixar a vida parar, pois seria bem capaz de que eu parasse a minha e isso eu jamais anseio. Amém!
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
31 anos
Às vésperas de meu aniversário, me ficou impossível não fazer uma revisitação neste meu último ano de vida, fazer umas confissões, tanger algumas mea's' culpa's', apontar alguns dedos, mergulhar no infinitivo, gerúndio e futuro imperfeito. Ser um pouco Aline, muito Batista e super Rodrigues.
Olhando desde outubro passado, vejo que deu quase tudo certo. Algumas coisas saíram na medida em que planejei, outras aconteceram como consequência de meus outros planejamentos, outras foram gratas surpresas, outras, embora tenham machucado, serviram de uma grande lição de vida.
A primeira maior de tudo que conquistei neste ano foi, sem nenhuma dúvida, o meu título de Mestre. A caminhada foi árdua, dura, mas me rendeu uma árvore de conhecimentos, amigos verdadeiros, um teste de superação, um reforço na minha condição de capacidade e de superação, respeito de quem respeitamos e um se importar comigo sem tamanho. Rendeu-me, também, minha aprovação no doutorado.
Comprei um carro, arrumei minha pequena sala do jeito que eu gosto. Investi em livros e li cada um deles. Tornei-me uma leitora bem melhor, mais conteúdistas, mas argumentativa e consegui reconhecer amigos que são bastante visceral, por se levarem a sério quando o assunto é conhecimento. Reconfirmei mais do que nunca que a unanimidade pode ter seu interesse, mas que é bem burra, chata e grotesca sim. Nesse tempo, também, risquei algumas pessoas de minha lista fraterna, bem como retomei outras tantas amizades boas. Passei a ouvir mais minhas antigas amigas, especialmente quando o assunto é me alertar sobre gente. Aprendi que pessoas sabem avaliar gente.
Fiz deboche com meu conhecimento em detrimento do pouco conhecimento alheio. Foi horrível, admito, porém precisava confirmar se a pessoa fingia sempre ou só quando queria se fingir de inteligente. Fingi que certos autores tinham dito alguma coisa em seus livros, quando nem sobre o assunto falavam. Ouvir sua concordância foi cômico e penoso, simultaneamente. Perdão a mim, prometo não fazer mais.
Redescobri alguns velhos sonhos e sorrisos. Perguntei-me várias vezes "e agora?" e subi até as nuvens, maravilhada. Conheci Porto Alegre e Gramado. Estive no Rio de Janeiro. Fui cortejada por pessoas interessantes. Disse alguns nãos para os outros, mas bem mais para mim. Engordei, emagreci, engordei de novo. Continuei comendo de madrugada vitimada pela insônia. Comprei e mergulhei na coleção de Nietzsche. Redescobri Schopenhauer e quase vomito lendo a maior pornochanchada da literatura atual "cinquenta tons de cinza". Chorei com a mudança de meu irmão, chorei com minha mudança, amei minha mudança de opinião, de lado, de atitude.
Tirei várias gentes da costa (pesos mortos), coloquei muitas outras no colo. Redescobri a matenidade a cada dia e vi que ser mãe é de fato um dos maiores, senão o maior, milagre de Deus. Reencontrei-me com Deus e Nossa Senhora e vi que não adianta discursar sobre suas bênçãos e ser mesquinho, egoísta, duas caras, ingrata, falsa e mentirosa. Revisitei-me! Tenho meus pecados e muitos defeitos, contudo não digo que sou uma coisa e nunca consigo sustentar uma fatia dos meus dizeres. Não sou uma grande incoerência humana.
Dividi outra casa e aprendi a respeitar as diferenças de pessoas reais. Aprendi a dividir. Declarei-me para meu amor e descobri que o amor passou. Declarei-me para meus pais mais e mais. Corri com meu filhote e quase somos congelados brincando de fazer fumacinha com o vento frio. Reaproximei-me de minhas primas e irmãos. Parei de comprar mais sapatos e brincos. Fiz promessa para não beber até o fim do ano, em agradecimento pelo restabelecimento de minha saúde. E vou manter porque Deus merece.
Reorganizei minhas finanças, reorganizando, por tabela, minha vida. Deliciei-me na feira do livro comprando 22 livros linddooossss...
Valeu à pena? Tudo! Cada conquista, cada sorriso, cada vitória, cada decepção, cada lágrima, cada pedaço de mim que se derrama na vida e cada pedaço da vida que se derrama em mim...
sábado, 29 de setembro de 2012
Ebriedade
Invadi sozinha um bar. Pedi um trago de bebida forte, uma porção de torta de maçã. Fiquei distraída olhando ao redor rezando para nossa senhora do invisível que nem um conhecido me espreitasse. Depois remoí a semana intensa que tive e adorei estar naquele lugar repleto de desconhecidos, homens e mulheres indecifráveis, mas todos acompanhados sussurando em uníssono "quem essa daí está esperando?"
Ui, ninguém! Complexamente, ninguém. Assiti, fingindo indiferença, a uma partida de bilhar entre dois casais. Escutava umas músicas cafonas e me divertia com aquelas rimas deploráveis parecendo surgir das profundezas do inferno. Resolvi soltar o cabelo e mandar descer dois chopps, "pronto ele deve estar chegando", devem ter pensado.
Garçom, mais um, por favor! Tomei 5 páginas de letras indiscretas e me afoguei no riso quando um porre me disse "sai fora, ele não deve ter conseguido escapar da mulher". Nossa, eu tinha cara de outra. Será que isso é melhor do que não ter cara nenhuma?
Ensaiei uma resposta, mas preferi um sorriso pálido: havia gostado do personagem que haviam me dado. Para inflamar mais, tirei o celular do bolso e ensaiei indelicadas e insistentes chamadas para meu suposto amante. A galera pirou! Fiz cara de raiva, mandei descer mais dois chopps, virei o primeiro, degustei o segundo, retoquei o batom vermelho.
"Um bilhete para senhorita". Guardei na bolsa sem lê-lo. Mandaram-me um tira gosto, porém desejei eferver lenta e bruscamente como sorrisal do bêbado ao lado. A cabeça girava e as palavras já saíam pesada, o dedo mal levantava pedindo mais um.
Resolvi guardar o livro, pois as letras há muito já dançavam à minha frente. "Moça, posso sentar aqui", pediu-me um grotesco cavaLEIRO, "sim, sim" respondi e imediatamente me levantei para deixá-lo mais à vontade.
Novamente, puxei o telefone e fingir ligar para ele. Comecei a acreditar naquela mentira (seria assim as pessoas que quando resolvem ser um personagem, uma hora passam acreditar na sua própria mentira?). Desliguei o telefone revoltada, mais uma vez fingia. Ganhei um chopp, sentada ao balcão erá mais fácil o assédio. Decidi não tomar, um boa noite cinderela não estava nos meus planos, nem aquele estranho bar estava, confesso.
Paguei a conta com cheque sem fundo. Saí e choquei ao descobrir que meu carro não estava mais em frente ao bar. Desesperei-me! Puxei o telefone para pedir ajuda, eis que constatei ser impossível, já que não havia um contato listado no celular novo. Precisava chegar em casa o mais breve possível para saber do carro.
Não havia carro, não havia há quem ligar, não havia livro na bolsa, não havia sobriedade, não havia sorrisal, só o que havia era meu amante fulo da vida me esperando com um buquê murcho e um café amargo. No mais, existia um amante.
Não era mentira o encontro, eu é que não havia ensaiado aquela parte!
terça-feira, 25 de setembro de 2012
A carta rasgada
Deveria ter te deixado uma carta, mas eu tremia demais. Outrora, teria me jogado aos teus pés, te implorado que me pedisse pra ficar mais um pouco. As fichas, porém, tinham se esgotado. A saga havia chegado ao fim. Esses três anos, esses três meses, esses três dias foram demais, já não conseguia subverter minha vontade de ficar. Eu queria ir. Eu precisava ir.
Eu fui. E se você pensa que não deixei rastros, está enganado, eu me deixei inteira por aí para não precisar ser quem nunca fui. Eu deixei os beijos insossos, as transas inertes, o aperto na mão sem graça. Eu deixei a televisão ligada no futebol que nem me servia para te ter por perto. Eu deixei as queixas da mulher desocupada, a cama desarrumada, a panela queimando a comida sem graça.
Ah, o amante, este eu tirei do armário. Não se preocupe, ele não despencará em cima de você para esfregar na cara o sexo casual que tanto detestei. Que ironia, sexo casual! Deixei algumas contas também, para que você visse o quanto gastei em beleza plastificada, para que você chegasse e me deixasse de souvernir uma dor de cabeça de boa noite e um mau humor como saudação matinal.
Meu café de hoje? Não está mais amargo, achei o açucareiro. Ainda corre pelas suas bordas umas formigas sem graça, que querem roubar todo o doce do meu açucar.
Levanto de madrugada, debruço-me sobre a janela, ponho o dedo na gota de chuva inexplicável que me cai do rosto e vejo, maliciosamente, como ando feliz!
Não me és mais um peso. Não tenho mais marcas no corpo, nem a alma castigada, nem preciso te perdoar tantas vezes depois de tantos perdões.
Depois desse banho trépido, depois desse sossego, só me resta te dizer que fiz bem em não ter te deixado uma carta.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
(In)Certas!
Tem
certas cores que não combinam, certas ideias que não se encaixam, certas
palavras que não ocupam lugar.
Certos silêncios ensurdecedores, certos comportamentos
molestadores, certos teias que não emaranham.
Certos blocos que não se
encaixam, certos brilhos que não cintilam, certos mãos que não lagrimam.
Certos
amores que enclausuram, certos bebidas que não embriagam, certos vendavais que
aquietam.
Tem certas melodias que ensurdecem, certas alegrias que entristecem,
certas conceitos que inebriam.
Tem certos blocos que não colorem, certos cinzas
que norteiam, certos gris que clareiam.
Tem certos certo que erram, certos
sorrisos que me entopem, certas andanças que me nauseiam.
Tem certos beijos que
não estalam, certos medos que bloqueiam, certos dedos que não se enlaçam.
Certos olhos que não se cruzam, certos conversas que não se encontram, certos
repousos que se escapam.
E tem certos eus que não se acham, por certos tus
que tão se perdem.
E tem certas histórias que acontecem, tão visceral, que precisam
mais de uma vida, para acontecerem por completo, por serem incertas!
terça-feira, 18 de setembro de 2012
É que meu coração pensa
Passei um tempo que me parecia interminável buscando me adequar as vontades de todos os outros. Ensaiava passos, buscava não esgotar os sorrisos, virava ao avesso, se preciso, para não desagradar e perder preciosidades camaleônicas. Eu temia um vazio que se quer conhecia, nem anseiava, apenas por seu sinal de existência experenciado pelos outros emblemarem um lugar vazio na minha estante.
Mas tem hora que cansa. Às vezes cansa rápido, às vezes cansa demais, às vezes nem cansa, mas está lá sem explicação, ou mesmo por explicação esdrúxula, desabitual, desafagável, lacônica.
Por cansar e por temer que as voltas que a vida dá fossem longas demais diante para minha implacável impaciência, resolvi ser mais eu e menos os outros. Resolvi parar de me importar com os comentários idiotas e lascinantes que cobravam um comportamento emoldurado para uma garota que é filha única.
Decidi não seguir o script, cortar as verbas, repensar editais, ser mais pólen e menos raiz. Neguei a vocação de mulherzinha, coitadinha, laidizinha. Fui mais macho que muitos homens quando precisei me desembainhar da saia da mãe. Levei rasteiras da vida, engoli choros e sapos, rezei baixo e desesperada, tive pesadelos inexplicáveis, me desprendi de amores imperfeitos, fiz contas incalculáveis, não superei o medo de altura nem do escuro, levei broncas desnecessárias, aguentei silêncios impiedosos, recebi um não que nem me foi dito, trabalhei no que não poderia, não aparei arestas selvagens, fui puro instinto, desfiz laços e me torturei com os nós, desisti, resisti, persisti, não consegui...
Tudo numa lacuna necessária, desvirtualmente afetiva, a fim de alcançar o ápice do que almejava por hora, por uma semana, por um mês, ou por uma vida toda.
Aprendi? Também. Mas, enfim, compreendi que a vida é feita de resistência, de resiliência, de autogenerosidade, de menos drama e mais comédia. Arregacei as mangas e me inscrevi na minha própria escola, lugar onde eu posso me reprovar e me recuperar de verdade. Onde eu posso lavar a alma e colocá-la para secar onde eu quiser. Onde eu posso ser mais eu!
Doeu, mas eu amo cada tijolinho alinhado, cada sementinha plantada, cada sorriso colhido e cada alma replanejada, pois eu planto sonhos para colher o que há de melhor em mim, inclusive amor, por isso não irei desistir, embora o coração não pense!!
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
As nuvens não são de algodão
O pior da política é a criação de "causas" para benefício próprio. Quando estudante da graduação, participei de tímidos movimentos que tinham por intuito combater a retirada do termo "gratuita" do estatuto das Universidades Federais, que pregam a "Universidade como pública e gratuita". Nessa mesma época, vimos o horror de termos nossas instituições privatizadas pelo governo de ideologia neoliberal, que só não tentou privatizou a bunda (num termo educado) para não ter muita gente metendo a mão.
Em contrapartida, pelo seu insucesso, FHC baixou uma emenda autorizando, a grosso modo e sem o rigor necessário, a criação de inúmeras instituições de ensino superior particulares para formar profissionais de respeito e ser, portanto, de respeito também. A ideia fundante era a de enfraquecer as instituições públicas de ensino superior, em especial as da rede federal, o que faria com que o governo reclamasse sua privatização, alegando não haver subsídios suficientes para ele (o governo) ser o responsável pela gestão, manutenção e ascenção desse nível de ensino.
O problema todo foi que o tiro saiu pela culatra. Os empresários que resolveram ser donos de uma faculdade não tinham noção da imprtância e de quanto trabalhar com educação e programas governamentais dá trabalho. Também não tinham noção que haveria uma concorrência transloucada, ou seja, muitos querendo se dar bem sendo donos de faculdades, e pouca gente interessada em se qualificar para valer: muito mais por não terem a noção exata do que é um curso superior, nem ganharem o suficente para se manter em um curso que deveria ser por excelência legitimado como tal.
Como consequência, o fracasso preanunciado instaurou-se antes até do que o previsto. Não havia público o suficiente que pudesse custear sua própria faculdade, dentre tantas razões, devido ao Brasil ser mais subdesenvolvido do que se imagina. Isto implica dizer que há menos ricos e classe média estável do que possa imaginar nossa vã filosofia. Nesse sentido, diversas faculdades cerraram as portas na mesma velocidade com que abriram. Vários cursos foram fechados, sem sinal vital de que poderiam voltar a funcionar. O individamento transbordou e gastar com um curso superior passou a fazer parte dos planos financeiros de uma família: deveria se ver sobre a possibilidade de pagar uma.
Muitos levantaram a bandeira, mas bem poucos a sustentaram até o fim. A credibilidade de várias instituições, mesmo as já firmadas no mercado, foram colocadas em xeque. Foi um choque letal!
Esse fracasso fez com que as Universidades Federais se fortalecessem, pois elas não fechavam e estavam para todo o sempre com recursos para funcionarem, mesmo na contravontade de quem governava um país e achava que investir em recursos para educação era o mesmo que queimar dinheiro numa explosão de caixa eletrônico. A ironia foi total. Passar nas particulares servia ou para colecionar aprovações, ou para se resguardar de uma não aprovação em uma instituição pública, ou mesmo porque não se garantia encarar uma. Outros diziam que recorriam às particulares porque nelas não há greve, falta de professores e outras tantas desculpas tão rasas quanto sem fundamento (esse discurso me parece daquele cidadão que não sabe brigar pelos seus direitos).
Com a entrada de Lula na Presidência, o mesmo do mensalão (embora negue), os ventos mudaram. A cara da educação mudou e os que queriam tê-la de forma institucionalizada, tiveram o acesso revisto e não precisariam mais vender a comida para comprar a cópia do livro. Lula, não sei se compreendeu, mas entendeu que o povo queria além de comida educação, diversão e arte. E deu. Vários programas idealizados há tempos por gente que sabe de educação sairam do papel e estão permitindo a democratização do acesso à educação. Programas que contemplam as várias classes sociais, respondendo aos apelos das várias lutas de classes, feitos por gente que tenta não tornar alheios os próprios brasileiros, que visam fazer de sua pátria idolatrada de direito.
Ainda há o que se fazer? Muito. Inclusive somar aos programas educacionais, políticas educacionais, pois qualque programa, a bem da verdade tem data de validade, e política pública não. O caminho conhecido não é senão, para começar, usar e aplicar 10% do PIB para educação. Só assim o PDE seria uma realidade alcançável, as greves seriam lendas (embora esta última seja uma luta válida) e a educação superior brasileira seria de fato Superior!
Isso não é uma missão só da Dilma, mas de todos os brasileiros que entendem que país grande é país educado!
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
O que ninguém não entende
Não acho piegas confessar fraqueza. Acho nobre demais, até. Ninguém é 100% forte, capaz, competente, uma fortaleza, que possa passear pela face da terra sem sentir dores, medos, insegurança, por estar ocupado demais sendo feliz e vivendo sua vida. Eu achava que isso poderia existir, mas ultimamente tenho tido mais certeza de que não.
As redes sociais estão aí para testemunhar os crimes imperfeitos. Quando não se está falando do que se é (na modalidade do perfeito) e o que lhe faz feliz, posta-se sobre o interesse que as pessoas possivelmente tem em sua vida. Em contrapartida, como modelos de fortaleza, os conselhos e nortes para solucionar o que não se tem parem na rede numa velocidade tão formidável, quanto mulheres parindo em hospitais públicos.
Eu vivia ocupada. Quando não estava trabalhando e/ou estudando,e stava pensando em que fazer para que não houvesse um depois vazio. Tudo já estava delineado e todos os planos e pessoas eu já tinha por perto. Aparentemente não me faltava mais nada. Até um medo inesperado, uma solidão transloucada, uma angústia terrível passar a fazer parte de mim e me inquietar. A inquietação é tão gigante, que até de dormir eu tenho medo. Tenho medo de sair a rua e algo me acontecer, tenho medo do que possa me acontecer amanhã exatamente por eu não ter controle da vida. Tenho medo de que aconteça alguma coisa com os meus. TENHO MEDO E NÃO SEI O QUE FAZER.
Aparentemente, tudo começou por conta de uma horrível pneumonia que eu tive. Fiquei com uma falta de ar horrorosa e senti medo de morrer sufocada e não ver meu filho crescer. Quando comecei a me recuperar da doença, passei a sentir meu coração disparar do nada, minha força se esvair e meu fôlego faltar e ter medo.
Ora, mas eu não era uma fortaleza intocável? E por que isso? Porque só controlamos aquilo que sentimos conscientemente. Do que forma nossa inconsciente não temos controle, só o que podemos saber é de nossos atravessamentos, sendo que dele nem sempre pdems alcançar o que nos atravessa.
Estas duas últimas noites sem conseguir dormir, tenho me deparado com uma Aline com fobia do desconhecido. Uma Aline que implora à Santíssima Trindade e a Nossa Senhora que não lhe abandone, porque ela tem medo de algo que não a deixa em paz e só lhe dá uma enorme vontade de estar só, embora a solidão a tenha apavorado também.
Hoje eu levantei pela manhã, com olheiras indescritíveis, chamei minha mãe e lhe disse em meio a lágrimas"eu preciso de ajuda". Gente, de repente descobrir uma total falta de controle sobre aquilo que eu mais achava ter domínio: minhas emoções!
Tentei me distrair durante o dia, mas eis que estou aqui sem ter com que ocupar minha mente, senão com um medo injustificável.
Seria histeria, Lacan? O que sei é que eu preciso de ajuda!
sábado, 4 de agosto de 2012
Onde está seu preconceito?
Uma garota america de 16 anos ganha ouro na ginástica olímpica. Isso por si só é a glória para um país feito os EUA. Ouro! Mas não foi. Deveria ser. Quase em coro no twiter, a comunidade negra reclamou que ela estava com os cabelos dessarumados. Ora, ela teve força, perserverança, determinação e técnica, mas devido ao cabelo estar desarrumado o ouro foi prata, ou melhor, bronze. Afinal, prevaleceu o preconceito contra sua raça, que levou o ouro, e o embaraçoso bagunçado de seu cabelo, que levou a prata.
Ela ser negra e ganhar ouro pelos EUA virou notícia. Não teria gerado essa polêmica toda, creio eu, se ela apenas ganhasse o ouro. Mas ela levanta a bandeira da hipocrisia estendida como salvação há 5 anos, quando foi lançada a campanha de um negro a Presidente dos EUA. Não abstaria sua competência? Foi um negro que deu sua vida contra o apertheide e passou outra parte dela em prisão domiciliar, mas vindo de um país de negros isso é natural. Ora, macacos me mordam, plagiando Gentili, somos uma raça só, da raça humana, então pra que segregar mais.
Vivemos uma era cruel contra os negros? Sim. Entretanto, já somos mais instruídos do que há 124 anos. Já pisamos na lua, armazenamos milhares de dados em memórias ultramicros, avançamos na área da saúde, conseguimos exterminar da face da terra milhares de doenças responsáveis pelo extermínio da raça humana, as mulheres conquistaram a igualdade trabalhista, etc. A garota lá, tem o privilégio de escolher quando engravidar, além de decidir se quer sangrar todo mês, pode ser independente financeira e emocionalmente se assim decidir. Poderia estar roubando e treinando para ser uma exímia dona de casa. Mas quis ser atleta!
Ralou para isso e o que ouviu repercurtir após ganhar lindamente sua medalha de ouro? Que seu cabelo estava desarrumado. Que ela deveria honrar a comunidade negra e cuidar da aparência em especial em um evento desse porte. E seu ouro? E seu esforço? E sua batalha?
O que os estados unidenses esqueceram foi que ela ganhou a medalha para um país inteiro, ela honrou seu país, não a comunidade negra americana especificamente. Ela me honrou como mulher, ela me emocionou com seu sorriso que simbolizava "eu consegui", ela se construiu como reflexo a milhares de meninas que sonham em carregar no peito uma medalha olímpica de ouro. Ela se retira das olimpíadas com a certeza máxima de missão cumprida.
E o que deveria ter escutado? É isso aí Gabrielle Dougla o mundo se orgulha de você! Seu ouro foi lindo, garota!!!
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Por tudo mais
Eu não nasci gata, gostosa, sarada... Nasci pobre, pobre de marré, marré... Fora as longas cabeleiras, que por um longo período foram podadas por mim, nada mais chamava atenção. Sou sem gracinha, mas não sem sal. Não tenho nada que faça os homens me disputarem e batalharem por mim. Por essas razões não pude dar o golpe do baú e casar com um homem rico. Não pude virar maria chuteira e me divertir com inúmeros jogadores de futebol. Não pude enfeitiçar os homens a bancarem minhas vontades e distrações. Mas, sinceramente, NUNCA QUIS!!
Porque nasci digna e constantemente lavo a boca com sabão. Adoro arregaçar as mangas e enfiar a cara no trabalho, no estudo, em projetos, no samba e no rock. Fico orgulhosa de abrir a bolsa e pagar as minhas contas, além de abrir a boca para defender o que é meu. Ninguém pode apontar o dedo na minha cara e me acusar de periguete. Não dá nem pra eu me distrair, porque cair do cavalo exige tempo de recuperação, então se for pra cair que seja de sono. Se for pra eu me decepcionar, que seja para aprender a ser melhor.
Porque posso chorar por amor, pelo cara feio, sem graça e sem juízo. Mas jamais por um golpinho por uns trocados não terem dado certo. Posso entrar e sair de casa, estar sozinha ou bem acompanhada por quem realmente me interessa. Posso rir até a barriga doer das besteiras da vida, dos amigos e de minhas indiscrições. Mas os sorrisos são verdadeiros , fortes e fartos.
Posso ter medo do escuro, mas jamais de ser pega na mentira de um golpe qualquer. Posso comprar um livro interessante, para não me divertir com mensagens pornográficas. Isso pode se chamar independência, modernidade, fuga, ou outra coisa qualquer, mas eu prefiro chamar de minha liberdade de expressão. Por isso, não venha me dizer o que eu sou, devo ser ou deixar de ser, porque só o que é louco me interessa!
E por todas essas razões sou inteira, porque ser pela metade enjoa!!
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Divagações transloucadas
Ela deu um sorriso, balançou o longo cabelo, vestiu-se e passou a apreciar a lua. Depois, lentamente, ofereceu-lhe um chá e saiu. Demorou várias horas. A bruma cintilava, o sorriso não se desmanchava e ela permanecia envolta em um misterioso e desalentador sorriso. Voltou tão imperceptível, como saiu.
Por vários instantes, ele tamborilou os dedos, ansioso, engenhoso, querendo ser mais que uma tecnologia. Chamou Karl, quis saber o porquê de ser o resultado do que é. Estava indignado com a ausência do hibridismo, da criação coletiva e protestou sobre o poder místico criado em volta de algumas pessoas. Enquanto (não) degustava de sua ânsia permanente, coisas que só os gênios vivem, rabiscou um protótipo de um helicóptero, ultraveloz, leve e antibomba. Amassou o papel, desvalorizando sua criação, tal qual os industriais, que não sabiam de onde certas ideias tinham surgido (e eram dele).
Lisa espreitava a conversa pelos cantos, inócua, tentando não transgredir, mas lutando para ser mais que algo surreal. Cada vez que era solicitada, buscava flertar com as brechas, que lhe permitiam ser mais que um ponto de tensão naquela conversa, naquele ambiente fantasmático. Mickail surgiu, antes que Karl lhe convecesse sobre a passividade da formação humana, e lhe disse sobre a transformação pela linguagem. Ele podia, portanto, ser sim mais do que um. Ser dois, ser duas faces, ser dois seres. Ser dois em um.
Loucura! Vender as medidas perfeitas, no afã do homem vitruviano, podiam fazer de mim, Piero, um homem ilustre? Os seres mitológicos eram-lhe mais poderosos pela sua ausência de tecnologia, pois o poder lhes vinha de dentro, não de máquinas limitadas pelo ponto de chegada da mente. Eram puros, também, e como isso lhe doía.
Lisa começou a inquietar-se e seu desassossego, o empurrou para frente do espelho. Sua inconsciência, era seu próprio consciente. Sua face, seu sorriso, sua áurea de mistério eram ele. Ele era híbrido. Ele era ela. O lago que Narciso se afogou refletiu-se em seu olhar. Já bastava de viver a vida tentando ser o gênio, a confirmação da soberania masculina, a inveja do mistério feminino. Queria dizer de si, mostrar o outro lado de sua alma, casada com seu Outro. Despiu-se e vestiu-se de sua fantasia secreta. Deslacrou-se. Mickail percebeu a que convergiu sua interpelação pela linguagem. Karl reforçou sua lógica da atividade e passividade. Era o descontrole, o caos, pairando a favor do controle total. As portas ficaram cerradas por dias. De dentro o que se ouvia era seu pedido de paciência, pois estaria terminando a obra que lhe consagraria, dentro de tantas consagrações e enigmas.
Ao sair, mostrou-se através de sua pintura, mas no lugar de compreenderem que a obra não era mais que o imaginário feminino de si próprio, buscaram interpretar o sorriso misterioso de lisa e descobrir quem era a moça retratada naquele quadro. Ele preferiu o silêncio, porque ainda é caótico um ser humano ser visto cmo híbrido numa sociedade de metrossexual.
O sorriso retratado revela, que ela sorria, mas não se sabe se era feliz!
segunda-feira, 2 de julho de 2012
"E ele só tinha '6' que isso sirva de aviso pra vocês"
Trafegando por "O Bloggus", achei esse texto de um dos caras mais geniais da cultura musical brasileira. Como o magno havia indicado parte da biografia de Renato Russo na Wikipédia, também resolvi dar uma garimpada atrás de textos que escapam ao imaginário coletivo. A quem interessar basta dar uma olhadinha na história de Renato Russo no endereço http://pt.wikipedia.org/wiki/Renato_Russo
quarta-feira, 27 de junho de 2012
A educação que transforma
A batalha por um lugar ao sol, daqueles que acreditam que o estudo é sim uma das grandes armas para nos firmarmos na vida, foi o mote do Profissão Repórter de ontem, apresentado na TV Globo. Vidrei e vibrei com o programa, que mostrou relatos de pessoas, como eu, que há tempos dedicam esforços ao estudo, a fim de buscar retorno exatamente naquilo que ele proporciona.
Ao fim do programa, lembrei de um comentário feito por uma de minhas professoras no Mestrado, que afirmou que a intelectualização e culturalização amplia horizontes e perspectivas de trabalho, em contrapartida limita pessoas com quem você pode ter assuntos interessantes, que possam se desdobrar por noite e noites inteiras de bate-papo. Logo, que os interesses por pessoas e assuntos também mudariam.
Coincidiu exatamente com o que as pessoas que fizeram curso superior, especialização, mestrado e doutorado e que trabalham nas áreas de aplicação disseram: que elas mergulham no trabalho, nas leituras e escritas, por terem seus interesses silenciados pela ausência de alguém com quem dialogar.
Ainda não me sinto completamente assim, bem como sei que essa completude não me atingirá, considerando que minhas áreas de interesse são variadas. Não que eu seja eclética, mas é que transito por várias temáticas teóricas e literárias, que me proporcionam um livre bate-papo com pessoas de livres interesses. Mas sei, que alguns velhos assuntos já me cansam.
Há duas semanas, mesmo, estive na casa de uma colega e o pai dela foi a primeira pessoa com quem conversei sobre Giordano Bruno e a Heresia. Fiquei fascinada, pois todas as leituras que havia feito e guardado só para mim foram partilhadas com ele. Antes disso, estive na casa de outro amigo e ele simplesmente conhecia Lacan e Freud, mas conhecia mesmo, de saber, de citar, de compreender. Me fiz! Com uma grande amiga, sempre converso sobre Outro, Ethos e a questão feminina... debatemos sobre valores educacionais, desses que não se restringem a considerar como bom educador aquele que inova nas aulas (por sinal, essa crença tem que acabar). Há dois dias, estive com outro amigo, que debateu comigo a questão do Tempo, da Morte e dos Oráculos, que são vertentes a que dedico leituras desde a adolecência, com exceção da ideia que ele debateu sobre a morte, que me foi totalmente (e absurdamente) nova. Agora estou lendo um blog que apresenta reflexões e ironias que você nunca imaginava encontrar, de forma tão inteligente (até Pargom está por lá).
Aí, você vai cansando dos velhos papos de sempre, das mesmas piadas desgastadas, porque de repente seus assuntos emergem e você tem com quem partilhar de maneira profunda, fugindo da tautologia. A linguística tem funcionamento em todas as vertentes a que ela se propõe e você começa a entender que se matar estudando te proporciona algo além do que se espera.
Aí, você vai compreendendo a solidão e o sarcasmo que só os intelectuais tem. A ironia, a falta de paciência, a falta de amigos, que vejo alguns doutores comungarem, embora desse último tenho pavor, afinal sou adepta dos besteirol, que só so amigos proporcionam e ser visceral cansa.
O programa foi genial, inovador, com suas discussões sobre a crença nos estudos, sobre se transformar pela educação. Convergiu exatamente para a máxima apresentada de que a Educação transforma as pessoas, é essa educação que transforma a de quem toca e é transformado por ela, não as do discurso sobre. Porque tomar o clichê irrefletidamente estagna o país, mas seguir o exemplo de quem pratica a transformação faz com que o país avance!
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Preservar a face. Como?
Preservação das faces é, como o próprio nome sugere, o ato de preservar as faces (ou a tentativa de) , de não se expor, ou de se expor. E por que faceS? Porque há a face positiva e a negativa. Uma da qual temos domínio parcial, outra da qual não temos domínio algum. Isso aponta para a questão de que tal fenômeno transita entre o ponto de tensão do sujeito, que ao mesmo tempo busca ter controle sobre o que diz, mas que também apresenta "descontrole" sobre tais escolhas.
Vejo, nas redes sociais, conselhos imediatistas, pedindo que as pessoas preservem suas faces. Tenho tido, ultimamente, especial interesse por essas postagens, pois ao que me parece as pessoas se julgam controladoras dos sentidos que emergem ao enunciar, quando na verdade os sentidos são construídos no momento da interação e é a partir dela que iremos analisar as faces. Sem termos controle disso, sem tentarmos preservar.
A Psicologia também apresenta um estudo relevante sobre a questão das faces, bem mais relacionável ao nome do que a Linguística. A primeira ciência, entende preservação das faces como algo ligado ao comportamento, e sobre o qual temos controle. Já a Linguística exclui a noção comportamental, uma vez que na AD o comportamento não é passível de se ligar aos fenomenos do discurso, assim como firma a concepção de que não temos controle do que somos por sermos sujeitos heterogêneos. Logo, como preservar as faces senão temos controle total do que dizemos?
Nas redes sociais, tentamos construir uma imagem de nós no discurso. Quando postamos algo, buscamos atenuar nosso discurso com modalizadores, que revelam quem nós tentamos ser, mas que na verdade mostra quem nós somos. Isso acontece seja quando postamos mensagens pacificadoras, seja quando postamos mensagens que atacam. Para uma analista do discurso é aterrorizante ler o que circula na net, bem como postar o que se deseja postar, ou o que se gostaria de postar. Acho que uma especialista em AD jamais deveria circular na rede.
Por mais que tentemos construir imagens valorizadas de nós mesmo (face positiva) no momento da interação, não quer dizer que ela será compreendida como tal. Daí as amizades e inimizades, daí os ódios e amores. Isso porque, há o território do eu que é mostrado e o que não é mostrado, que se busca preservar de si (face negativa), para que o outro não nos invada, ou para fazermos com que ele veja somente o que queremos. Mas isso nem sempre dá certo, uma vez que toda interação é por si só um ato ameaçador.
Bem, então? Não podemos controlar as faces, mas podemos ser polidos, ou tentarmos, ao menos, sê-lo. E essa discussão, tendo por corpus postagens no face, é meu próximo objeto de pesquisa. De onde partiu tal ideia? Das postagens, como a que vvi ontem, de pessoas que clamam para que preservemos as faces durante as postagens. Ora, e como?
domingo, 17 de junho de 2012
Sobre o amor
Se "na natureza, nada se cria tudo se transforma" (Lavoisier), por que não compreender o amor como uma transformação cotidiana de sentimentos tocados? Graças a mídia, somos forçados a acreditar na felicidade amorosa a partir de um encontro extraordinário. Encontros sem graças (leia-se comuns) e amor construído não são exemplos suficiente para construir uma história com sabor protagonista, real, avassalador. É preciso roubar o fôlego, ter química, causar brilho no olhar no primeiro encontro, ocasionar frio na barriga, enfim... amor que é amor proporciona experiências surreais.
Não, isso não é amor! Quando amamos, amamos sem obrigação, sem retribuição, sem constragimento. Amamos porque simplesmente amamos, sem maiores explicações. E amor que é amor se constroi no dia a dia e não na idealização da pessoa amada, você ama simplesmente pelo que a pessoa é. Você ama o cheiro que ela inspira, o sorriso que ela lhe derruba, o esforço de suas rimas na ida ao trabalho. Você ama a forma como ela invade seu pensamento, pelas músicas que ela não compôs, mas que você entende como sua. E no contrário que se inspira, precisamos saber que o amor não machuca, não atormenta, não inibe, não envergonha. O amor só faz bem a quem o tem!!
E se o amor não acontece em uma relação, pode-se amar mesmo assim, na certeza de que não se ama só. Já diria essa linda canção "mesmo que você não esteja aqui, o amor não há de ir embora". Ama-se pela felicidade do outro, pela sua vitória, pela sua tranquilidade, pela sua paz de espírito. Quem ama, conhece que não há o tempo do amor, ele é tão livre, quanto o livre arbítrio. O amor acontece no pensamento e na vontade de estar, mesmo estando só.
Quem ama, sabe que, em algum percurso da vida, que nem sabemos precisar, temos a certeza que a pessoa a quem dedicamos tanto amor, acaba por fazer parte da gente, da nossa história e que, por isso,
mas nem só por isso, o amor será eterno enquanto durar. Quem ama, nunca está só. É por essa certeza que Tom disse que "fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho".
sábado, 9 de junho de 2012
Foi hoje que eu disse thau
Ensaiei anos a melhor forma de me dizer pra ele. Quando era adolescente, escrevi centenas de cartas, toscas, impublicáveis, rasas, tal qual um amor de menina. As queimei quando me encantei no negro de outros olhos, levada até lá pela partida suave dele para outro ponto de vista. Reensaiei o dizer guardado a sete chaves, quando lhe vi plainando em minha vida, me enganando com um sim que insistia em estar longe de mim.
E o guardei novamente. Escrevi novas cartas, publiquei outros contos, reescrevi minhas poesias, armazenei seu olhar, lacei seu dizer, me musiquei em outros carnavais. E ele veio para mim, marcando seu ponto de intensidade por uns dias. Era tão platônico, que me desnorteava. "E foi tão corpo, que foi puro espírito". E ele se foi novamente, perder-se noutros espinhos, ferir-se com outras monotonias, experimentar outras solidões. Ele nada sabe sobre o amor, sabe sobre o sofrer, disso ele é vida.
Não queimei meus dizeres. Guardei-os, prometendo sua publicação para além de mim. Ganhei um beijo intenso, um passeio de mãos dadas, um encontro para depois, promessas mal dizidas, uma raiva desconcertante. Pronto: promessa cumprida! Disse-lhe das minhas ânsias de adolescente, dos esconderijos nas esquinas, da frustração pela negação e pela dor de lhe ver sofrer. Platônico? Não. Amor intocável, maduro, paciente, "ferida que dói e não se sente". Vivi a paciência intensa de lhe ver indo tão longe, para longe, para lá.
Eu nunca lhe tive e ele nunca me teve. Nunca partilhamos sonhos, beijos, cores, músicas, perspectivas. Mas hoje eu preciso ir, não porque não suporto sua ausência, já que ela sempre tive, mas exatamente porque não suporto mais sua ignorância subhumana de se deplorar e se perder diante da vida que ele nunca se permitiu ter.
Eu tenho um amor que pulsa, eu tenho a paz que me leva a sorrir... se ele soubesse o quanto isso é bom, permitia-se uma nova chance se construindo feliz. Porque sua dor dói em mim e eu já estou tempo demais longe de casa, e agora "estou voltando pra casa de vez..."
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Conselho não perguntado
Passei parte da minha adolescência escutando esse clichê, que até bem pouco tempo eu julgava como barato: "a vida é muita curta para não ser vivida". Ressalto que era o clichê, não a exata ideia do que ele correspondia, que eu achava super barato. Sua compreensão e a concepção mudaram de status nesses últimos dias, pois várias emoções me bombardearam, desde atitudes de amigos, passando por vivências pessoais, até escolhas repentinas de pessoas próximas a mim, que aparentemente estão vivendo um inferno pessoal.
A ideia de que a vida é curta é fato. Mas ela só é possível ser vivida intensamente se optarmos ou pelo sim ou pelo não, uma vez que o meio termo nos deixa pela metade, sempre. E estar nessa vida para ser mais ou menos uma coisa, ser feliz mai ou menos, estar satisfeita mais ou menos, é para qualquer um, não para quem sabe quem se é, o que quer e o que pretende levar dessa passagem pela terra.
Por esses e outros tantos motivos que não me rendo a qualquer emoção, mas também não deixo de sentir e dizer o que penso. E por essa mesma razão que detesto me imaginar numa história que fatidicamente vai me roubar fatias de emoções, com goles nada inusitados de ações desnecessárias. Como vivo me repetindo, detesto entrar em um "lugar" e não sair dele renovada. Detesto não degustar de uma boa originalidade e, principalmente, detesto me meter com pessoas bobas, que me fazem sentir mais boba ainda. Essas situações e seus resultados me fazem sentir desnuda diante da vida. E viver a vida é coisa que sei fazer bem.
Não no sentido de curtir, ir a badalações, viver em festas, rodeada de pessoas, mas no sentido de viver minhas escolhas até a última gota. Me declarar, estudar, trabalhar longe, beber, ou seja, pagar os preços. Nenhuma decisão pode partir do nada, pois toda escolha nos leva a algum lugar.
Por isso, antes de pegar um porre, pense na ressaca. Antes de se declarar, pense na cara virada. Antes de querer estudar, pense na abnegação. Antes de fechar um contrato trabalhista, pense nos transtornos. Antes de pedir um beijo, pense no gosto. Antes de casar, pense no ônus. Antes de gritar, pense no ouvido tampado.
Mas saia do quarto, negue o travesseiro, saia do armário, busque um amor que valha à pena, em especial seu amor própro, afinal "a vida é muito curta para não ser vivida".
domingo, 3 de junho de 2012
Retrospectiva de emoções
Dia 16/02/2001, o locutor berrava enlouquecido os nomes dos aprovados no vestibular da UFPA. Não era um dia qualquer: era um domingo de carnaval. Além da festa de quem gosta de curtir a folia, podiamos aproveitar e gritar e espernear uma vitória, a primeira de muitas de quem traz no peito a garra de investir em conhecimento.
Em 2002, começamos a batalha pelo diploma de graduados. Foi uma caminhada louca e sã. Firmei grandes e sinceras amizades na academia, superei obstáculos, pensei em desistir, parei um semestre com a chegada do filho e em 2007 na hora da outorga, tendo minha mãe ao meu lado como paraninfa, virei e partilhei o momento com meu pai, que vibrava feito louco com o ápice dessa primeira grande conquista. Chorei, não acreditando no que havia conquistado, mas tamborilando a materialidade da coisa.
No mesmo ano já emendei o curso de especialização. Nunca na vida tinha estudado com tanto afinco. Madura e com planos já delineados, estava decidida pela busca do meu melhor lugar ao sol. Tirava dez em quase todas as disciplinas e ganhei o reconhecimento e a amizade de grande parte do corpo acdêmico da área de Letras da UFPA. À época da defesa foi um caos, uma vez que quem estaria na minha banca era a bambam em Linguística textual e sua (im)presença me causou o primeiro pânico acadêmico de minha vida. Dois dias antes de defender, tive febre, vômito e dores fortíssimas na costa. Tudo pelo abalo emcoional!
Mas essa etapa também fechei com chave de ouro: passei com excelente e com grandes elogios, quanto a minha atuação acadêmica. "Ela terá uma carreira promissora" professaram a Drª. Iaci Abdon e a Drª. Célia Brito.
Foi o impulso necessário para eu meter a cara no mestrado. No dia 20/12/2010, eis que sai o resultado definitvo do concurso e eu estava garantida na turma 2010-2012 da área de Linguística, da área de concentração em Ensino-Aprendizagem. As discussões foram o suporte necessário para apontar que havia algo de errado com a Educação e com os educadores. Foi um percurso longo, dolorido, exaustivo, mas que valeu à pena para que a 3 dias da consagração, eu pudesse revisitar esses últimos anos de dedicação acadêmica e dizer: valeu à pena!
Meus pais, meu filho, meus irmãos, cunhadas, sobrinhos, tios, primos e amigos (incluo aqui os professores) viveram com uma Aline intensa nesses últimos anos, uma Aline que trafegava entre a angústia e a libertação. Entre o medo e o desejo da vitória. Entre a loucura e a lucidez. Se alguém achava que eu não fosse conseguir pela minha ocilação de humor, precisa compreender, de uma vez por todas, que onde a Aline se inscreve, só lhe interessa sair de lá transformada.
Mas nada disso teria sido possível sem Deus, para renovar minhas forças. Quando exausta antes de dormir, eu lhe pedia "cuida de mim, porque eu não dou mais conta", Ele na manhã seguinte me permitia levantar sem o menor peso na costa.
Quarta, dia 06/06, estarei lá, segurando em Suas mãos, no colo de Nossa Senhora, encerrando mais um ciclo. Estou tensa, mas dará tudo certo, eu creio!!
A todos que sabem o quanto eu caminhei para chegar até aqui: Muito obrigada!!!!
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Novo olhar sobre amizade
"A amizade, nem mesmo a força do tempo pode destruir..." Não sei que força cármica nos uniu, mas não tenho dúvidas de que o encontro dos cinco não foi à toa. A princípio foram dois. Posteriormente, fomos cinco. Divindo uma casa, segredos, comida, espaço e humor. Já se foram três meses e tudo em harmonia.
Não há disputa pelo melhor lugar ao céu, nem pelo último biscoito do pacote. Há sincronia no diacronismo. Pudor na libertinagem. Risos no barbarismo. Rima no descompasso. Cada tem seu próprio lugar musical, embora não tenhamos delimitado nada. Cada um tem seu tempo, seu ritmo e seus infinitos problemas. E todos temos vontade de ficar "tudo bem" nesse espaço familiar novo para cada um de nós.
Buscamos superar as adversidades persistentes através da união. Viramos uma família abençoada, divertida e unida, como quase nunca se vê. Viramos uma família e isso basta. Amigos que se uniram ao acaso, e que vivem o limite do espaço e da dor da distância, que se deram as mãos, o apoio e o abrigo necessário, que só um convívio pode permitir, ou impelir.Moramos juntos na mesma casa e dividimos a mesma cabeça.
Foi bom. Me fez rever as amizades que cativo e cultivo. Me fez compreender que o conceito de felicidade e fidelidade são suportes para nos direcionar na vida. Nos fazem viver dores inimagináveis, preocupar-nos com o impossível e superar a distância mesmo estando perto.
Eu não sei como serão as relações futuras, nem se haverá um até um dia, o que sei é que desejo que essa força chamada amizade ensine-me mais do que minha pretensão de viver a vida.
O que seria da vida sem os meus amigos??
sábado, 26 de maio de 2012
O milagre das folhas
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me basta como esperança. Mas também me revolta: por que não a mim? Por que só de ouvir falar? Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de estimação se quebraria.” Meus objetos se quebram banalmente e pelas mãos das empregadas. Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os quais os seixos já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que tenho visões fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me foi tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo, capacidade de projetar no campo alucinatório as imagens inconscientes.
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhares de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza”.
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhares de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza”.
Belíssima essa crônica de Clarice Lispector. É para ler e se deliciar, refletir e se renovar...
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Por mais um dia...
Tenho andado cansada. Um cansaço que clama, naturalmente, por sossego. Não tenho vivido pouco, nem tenho sonhos engavetados, mas tenho expectativas advindas dos sonhos colhidos, vividos e, por vezes, sofridos nos tempos de colheita. Hoje, tive vontade de não levantar, pelo turbilhão de emoções vividos nesses últimos tempos, pelas escolhas mal acalentadas quando se percorre o interruptor no escuro e quando se acende a lâmpada ainda se tem um canto sombrio.
Cada vez mais tenho visto que escolha é tudo na vida. Que para colher os louros, podemos ser colocados em testes. Podemos não entender os papéis em cena e encenarmos e acenarmos caminhos por pura necessidade e menos diversão. Menos diversão, mais estupidez. Menos mãos afáveis, mais hipocrisia. Menos amor, mais paixão tóxica.
Se tentamos não deixar rastro ruins, temos que pagar o preço do rubor. Calar para não escandalizar, mas ser apedrejada pelo silêncio que confronta uma amizade sincera. As coisas andam bem, a parte ruim tem que aparecer, que condição de vida é essa? Quem definiu essa regra?
Tenho andado cansada. Pelo mestrado que parece nunca acabar e pela tensão angustiante dessa reta final. Pelo trabalho remunerado que estava colorido, e hoje está com cores de tardes gris. Pela distância de casa, e por não valer à pena frente ao desconforto, solidão e não se exercer o que se sabe fazer. Pela angustia do depois, e a não autorização por se viver um dia de cama com a sensação de um dia de cada vez.
Tenho andado cansada. Pelos amigos que não partilham meu silêncio e pouco aparecem para me acompanhar nessa fase. Pela dor de cabeça e o desvio de sono. Pelos conflitos que eu não pedi para viver e a insegurança instaurada nas linhas tênues que dividem a amizade e a inimizade. Pela falta de tempo para viver o que mais amo e pela obrigação de viver as regras cozinhadas em viés.
Tenho andado cansada e sem tempo. Desanuviando emoções. Definindo caminhos e escolhendo novos portos. Querendo romper o grito preso, querendo engasgar um monte de gente, querendo chorar, chorar, chorar e não adoecer...
domingo, 20 de maio de 2012
Eu prefiro é ser feliz!!
Vivo me perguntando sobre o que é feito com os espaços não preenchidos deixados por nós na vida. Porque quando dizemos "não", ficam os "sins" para alguém dar conta do que nós não quisemos ou não podiamos viver. Para amigos próximos, não é novidade o mergulho forçado ao fundo do poço que dei há bem pouco tempo, bem como não é novidade a reviraolta que experimentei e gostei e pronto. E com espaço dessas duas aventuranças, o que foi feito?
Não costumo me perguntar "e se...?" até mesmo porque abrevio o rumo que cada um tomou e hoje sei quem estar em melhor posição na vida. Não digo financeiramente (até mesmo porque isso não é o essencial), mas digo moralmente, afetivamente e decididamente. Resumo-me afirmando que tive um passeio pelo inferno, para valorizar a experiência do paraíso. Fazendo uma releitura de Renato Russo, que em uma de suas brilhantes músicas escreveu "você quis partir e agora estou sozinho, mas vou me acostumar com o silêncio em casa, com um prato só na mesa" para reclamar tristeza e ausência, afirmo que essa solidão foi a melhor coisa que me aconteceu e que eu não só me acostumei, como gostei.
Mas e depois, quantos silêncios experimentei, quantos mais espaços vazios não foram lacunar, mas desejaram meu silêncio para alguém resolver? São espaços autênticos e ignorados. Por que não temos mais de uma vida? Por que vivemos de fazer escolhas? Por que não podemos amar e ser feliz com esse sentimento? Por que desejamos o trabalho e reclamamos das angústias e malogrados lançados com ele? Nem tudo é lucro, mas tudo é paixão.
O que sobra é a esfinge humana, recatada e recontada como suporte ao que nunca nem um filósofo, pensador, cientista soube explicar. O que sobra é um pedaço de nós, uma fatia grande de nossa essência e carência. Quem se ressente frente aos espaços deixados, vive de distorcer a realidade, de tentar viver outras ideologias e varre o que não suporta do espelho para baixo do tapete, junto com os lixos desnecessários, junto com sorrisos plásticos, flores artificiais e brinquedos de porcelana.
E hoje acordei pensando nisso por duas afirmações de entrelinhas deixadas ontem para mim: "a Aline escolheu a solidão" e "se a Aline soubesse o que é se apaixonar estaria feliz". A solidão e eu nos relacionamos tão bem, que vez ou outra ouso dizer que ela é meu mais bem fiel bibelô enfeitando a estante de minha alma. O uso dela em minha vida não é fulgás e em contrapartida é essencial, por me oportunizar uma revisita sempre que eu me pergunto o que foi feito com meus espaços vazios. A solidão é tão necessária à vida de um ser-humano, quanto a água nossa de cada dia. Quem tem medo dela, a vira pelo avesso por temer se deparar consigo. E eu sou uma eterna apaixonada por tudo que faço, por tudo que tenho, por tudo que trilho, por tudo que neguei, pelos homens que não amei, pelo menino maluquinho e pela estrela insossa.
Eu não ter escolhido ser amélia parece castigar quem decidiu sê-la. Parece que eu chego com meu furacão e levanto o tapete para onde várias coisas foram enviadas e reviro e revelo os espaços e vazios deixados incaltos, mas nem um pouco resolvidos.
E cada vez que me deparo com algumas pessoas eu me instigo com a inércia e o pouco volume de resoluções vividas, tudo porque eu resolvi viver intensamente cada coisa que me dou nesse paraíso chamado vida. E os espaços vazios, alguém que os cate, pois decisões descartadas não me pertencem mais. Eu não vivo entre a necessidade de pertencer e a angústiaa de me negar, por isso, recorrendo a Nietzsche, "minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….”
É isso...
terça-feira, 15 de maio de 2012
Foi por medo de aviãooo
Viajar sempre era um sonho. Mas por medo de avião e cansaço e sensação de desconforto antecipados pela viagem de ônibus sempre me mantiveram em solos paraenses. Até um dia a vontade de ultrapassar fronteiras, dentre elas a do medo, me empurraram rumo ao novo. Como é supremo o desconhecido. Como é doce o sabor da aventura do que não se conhece. Como é bom se lançar ao encontro do inesperado das sensações imprevisíveis. Foi bom quebrar barreiras e expectativas. Pisar em outros solos e viver uns sonhos. Percorrer labirintos sonantes e luminosos.
Comecei por Sampa, depois rumei a Taubaté, degustei dos solos cariocas e voltei pra casa. A sensação da volta é louca, é como se vivessemos literalmente a sensação de "de volta à vida real". Foram dias mágicos, intocáveis, inesperados e imprevisíveis. Vivi sonhos e sabores, não conheci tudo que queria, em especial os pontos culturais e históricos, meus desejos maiores, mas valeu muito à pena, em todos os sentidos, por todas as razões. E como não tenho a alma pequena, tudo vale à pena.
Depois, fiquei sonhando com a próxima viagem, com outros novos e outros sabores. Em menos de um ano e meio rumei ao Sul. Fui à encantadora Porto Alegre, cidade que respira cultura em sua história, arquitetura e paisagem. Centenas de museus gratuitos. Praças bem cuidadas e aconchegantes, e por que não dizer acolhedoras. Rumei para conhecer mais um sonho: Gramado. Pousei os olhos, abri a boca e deliciei-me com tudo que a cidade oferece, que é sem dúvida a mais linda que eu conheci até agora. Não é só a cidade, é o conjunto de tudo que ela oferece. Foi lindo, mágico, encantador e norteador de emoções a caminhos. Valeu muito à pena. E hoje, um dia após minha chegada, já penso e agora?
A próxima já está agendada: Brasília e Goiânia. Não sei se me encantarei, porém mais uma vez o novo me aguarda e as renovações das emoções já me aceleram o coração. Tudo é bom!
Por isso, viaje. Menos na maionese e mais pelo mundo. Guarde dinheiro e lembranças. Durma com o sorriso nos lábios e acorde pensando no que verão os olhos que se depararão com personagens de uma história nova.
Seja protagonista de seus sabores, não espere pelo outro, nem pelo que poderá vir. Vença seus medos. Seja você com todas suas intensidades, cores e imperfeições. Viaje, viaje e viaje. Conte histórias de seu lugar e ouça a de outros lugares. Conte histórias de você e seja a história de outros verões e tantas emoções.
Perca o medo de avião e desprenda-se do rotineiro. A rotina entope veias e pretensões. Viaje pelo mundo e por você, se autodescubra, se valorize e se desnuda, porque só quem está morto não sabe o que é viver. Não demore o quanto eu demorei e viva a intensidade do lugar quando estiver lá.
E o medo de avião? É seguro e quem o conduz é Deus!
domingo, 6 de maio de 2012
Por eu ser humana
É preciso acreditar no que dizemos sobre nós. Trabalhar nossa face positiva e tentar influenciar no ethos do discurso. Ser menos irônico nas situações que não conseguimos resolver e que fingimos tirar de letra, ajuda bastante. É difícil, mas não é impossível. Ou é melhor sermos nós mesmos, com todos nossos defeitos e bondades calientes, mas se assim o formos evitaremos o dissabor da mentira descoberta sobre quem não somos.
A cada dia vejo que algumas coisas que me pareciam "ordenadas" em minha vida, mudam de lugar e fazem gerar novamente uma nova ordem, ou, quem sabe, uma nova desordem experimental, uma vez que já compreendi que tudo é mutável, até mesmo aquelas coisas que parecem estar fincadas, enraizadas, no solo que (não) nos pertence.
Desde nova tenho um apreço inexplicável pelos livros e estudos, bem como um mapa fisiológico (gosto dessa expressão) sobre quem gostaria de ser quando crescesse. A última instância seria a de ser professora. Para acalentar os sonhos paternos seria médica para cuidar dos meus pais quando eles já estivessem velhinhos. Sonhava (acho que ainda sonho) com uma casa só minha, decorada do meu jeito e que poderia até não ter uma cozinha, mas deveria obrigatoriamente ter um canto para "o saber".
Os livros médicos que eu deveria ter, deram lugar ao legado de clássicos da Linguística e de literaturas sobre a história da igreja, comunismo e autobiografias diversas. Todos lidos e tocados, refletidos e compreendidos, lições de vida. Sou outro tipo de médica. Sou médica do saber e busco melhorar a educação do meu país prescrevendo emendas, que dignifiquem um pouco o cidadão carente de informação e cultura: sou professora. Minha casa não é minha e "meu lar é minha cabeça".
Às vezes sou controvérsia, deixo o estudo no canto de castigo, implorando minha sempre generosa atenção e caio na gandaia. Vou à farra e deixo as deliberações urgentes acontecerem conforme forem se ajustando sem mim. Provoco a desordem que não me pertence. Até o vazio me invadir e as perguntas do meu Eu gritarem "ei, você não é só isso". E num lampejo de consciência, volto ao meu mundo (des)ordenado de sempre.
Constatemente, tenho me perguntado se estou ficando velha em razão das escolhas e da vida que venho tendo. E a resposta é sempre única: não, eu amadureci e estou pagando pelas escolhas que fiz lá atrás em 2000, quando decidi prestar vestibular para Letras e mais recentemente em 2010, quando decidi investir mais ainda em minha profissão e cursar mestrado, pois quero ser professora universitária.
Eu não consigo ser só uma coisa. Eu não consigo ser "só isso". Quando vou lá adiante e vivo uma vida desregrada, meu fio limítrofe estanca e eu volto ser a Aline de sempre: apaixonada pelos livros, estudiosa, profissional e com uma leve queda por umas farrinhas pra descontrair. Quando uma prioridade tenta tomar o lugar da outra, entro em crise e fico um ser absurdamente insuportável, chata e intolerante.
E nessas horas que penso que não adiante se dizer sobre o que não se é, porque as pessoas sabem de você, por vezes muito mais do que você mesma e acabamos por passar por meras reprodutoras das idiotices subhumanas. E é quem você é que ordenará quem fica em sua vida mais próximo ou mais distante, porque ao contrário do senso comum, são os semelhantes que se atraem.
sábado, 28 de abril de 2012
Chega dia 30, por favor!!
Foi uma semana árdua, dolorida e sofrida. A começar pela concretização da partida do meu irmão para o interior, uma semana inteira longe dos seus, sem saber, o que é pior, o que lhe esperaria. Vi a angústia nos olhos de minha mãe, na segunda, quando eu também parti para longe, mas por um período breve. Ficaram-lhe Aldo e Beto, os demais filhos, seus companheiros de perto, mas lhe sobrou preocupação em relação à estadia e segurança dos que foram.
Na segunda, o dia começou tarde, atrasado e imediato. Nada do ônibus que me levaria ao terminal, em razão desse nada eventual atraso, perdi o ônibus que me levaria para o trabalho no interior. Foi um jeito apanhar qualquer outro que me deixasse ao menos nas proximidades, rumei em um que iria para o Moju. Desci na alça, desconsiderando todo e qualquer perigo que ela sempre oferece e me pus a torcer por uma condução rumo ao Acará. Dois caras, super mau encarados, não paravam de me olhar, quando senti que meu tempo e autocontrole se esgotavam, surgiu uma carona, que me livrou de sabe-se lá de quê.
Chegando à cidade, imediatamente avistei o outro ônibus "senhor do meu destino". Corri gritando feito louca para não perdê-lo - às vezes a necessidade nos faz passarmos por situações inimagináveis, senão deploráveis. Passei direto para a escola,embora o suor, a fome, o cansaço mediassem minhas relações cerebrais, que insistiam em me direcionar para a cama. Foi uma tarde longa, sem sentido algum diante de tudo que me propus nesses últimos anos. A história de que nos refazemos e nos reencontramos nas dificuldades, nem sempre funciona. Mas a necessidade, por hora, é motor dos direcionamentos.
Segunda e quarta à noite não houve aula, por falta de transporte. Na quarta não houve energia, mas houve saudade de casa e o medo do escuro num ambiente desconhecido. Às cinco da madrugada, da quinta feira, acordei afoita para pegar a moto e rumar para minha casa, para os meus, para meu filho. Não havia como sair da cidade, pois suas principais vias estavam interditadas. Caos imediato e a pergunta "o que estou fazendo aqui?" não queria se calar. O que sei que não era eu quem perguntava, era algo além de mim: o Outro, bem que eu sabia.
Em casa, já quase no fim da manhã, rumei para o Detran apenas para descobrir que nada poderia ser feito em relação à transferência da moto para meu nome. Sono e viagem perdidos. Tristeza lançada pelo esforço depreendido, depois de vir para casa como uma fugitiva na boleia de um caminhão, desafiando todo o risco lançado quando se pega uma carona.
Quando finalmente ía dormir, fui assaltada pela notícia de que a filha do meu obstetra se jogara da janela de seu quarto, no sexto andar e morrera. Seu pai gritava de desespero, fazendo meu coração latejar de dor. Como pode um cara que ajuda dar luz às crianças, ter sua luz temporariamente apagada? Só Deus para lhe consolar...
Na sexta, as coisas pareceram voltar para seu lugar e hoje estou rindo à toa por tudo que o dia 30 me reserva e que eu sei que darão certo!!
sábado, 21 de abril de 2012
A favor das mentes sãs!!
Ontem, fui dormir ao som de algum sertanojento fanho, graças às bebedeiras de uns vizinhos de péssimo gosto musical. Não havia como não prestar atenção às letras insólitas que desprezam mulher, relacionamentos e quaquer coisa decente, ou indecente mesmo, afinal qual mais categoria musical tem tanta dor de cotovelo e de corno, além da pura falta de noção?
Lembro-me de, em uma entrevista, Gabriel Chalita afirmar que os jovens brasileiros já estavam demasiadamente devastados pelas drogas e desamparo governamental e que por essa razão não mereciam mais uma violência em suas vidas, já tão precária de cultura: o sertanejo. Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso cultural há de concordar com tal afirmação. Para que o sertanejo? Ora, para auxiliar o capitalismo a devastar mentes, afinal o sertanejo não faz nada além de vender rimas pouco sofisticadas a uma elite brega e cafona.
Em contrapartida a essa contracultura, temos grandes fenômenos musicais invendáveis, além dos já eternizados, que deixaram uma herança musical sofisticada, desses Tom e Vinícius. Agora choquem, uma aluna veio me dizer que os amava, eu, inevitavelmente, elogiie seu bom gosto, até ela se mostrar cética às letras que eu desfilava aos seus ouvidos e ela me dizer não conhecer nenhuma. Na aula seguinte, eis que ela surge com um CD de Tom e Vinícius e eu, pasma, não conseguia crer que era uma dupla sertaneja, e o pior, ela se quer ouvira falar no Tom e Vinícius "de verdade".
Para devastar mais ainda um ouvido treinado, ouvi certa vez Zezé de Camargo dizer que sua influência musical eram os Beatles. Hã? Claro, eles consomem boa música para desintoxicar-se do lixo que produzem para vender, isso mesmo, não há prosa, nem versos, nem rimas, nem metáforas, há apenas e tão somente vontade de ganhar dinheiro às custas de mentes insanas.
Agradeço ao Chico Buarque de Holanda pelo impagável conselho: não ouça sertanejo, não reduza sua mente, prefira o silêncio à bobagem que reduz sua cultura ao lixo.
E siga o que eu, Chico e Suassuna te aconselhamos: ouça Lenine!!!
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Queda interior
Se a queda é livre
o medo da queda
é preso.
Livre é a queda
sem embaraço
defeso.
A queda
de um homem
tenso
não é a guerra
do Peloponeso
pelo estreito
de um coração
perverso.
A queda
livre
é o próprio peso
de um coração
suspenso.
Toda queda
é o menosprezo
de quem cai
sobre si mesmo.
(Mário Chamie)
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Metáforas da vida!
Paetê, água de coco, patchouli, cabra cega, pira cola e amedoim... Guarda-roupa, guarda-louça, guarda-mágoa. Põe na mesa, em baixo da cama, joga na cara. Mostro o umbigo e tira ambiguidade do jardim. Me dá uma flor, brinca de bem me quer, mal me quer, saravá!
Metáfora + Ideologia + Posologia + Apologia = Resumo de Páginas da vida.
Ei, psiu, joga água aqui para tirar o excesso de água. Insista na receita ruim, uma hora fica boa. Lustra o vidro para ficar trasnlúcido. Ué, não é assim a brincadeira da vida? Perde aqui e ganha ali. O amor é maior, mas te faz mal, mas joga mais amor para perder o amor. A água e a receita. Seja sincero no papel de amigo, perca o amigo, porque sinceridade é para os inimigos. O vidro.
E a carapuça não cabe, quando cabe, finca na terra, passa o batom vermelho, cospe no chão até secar. Não melhora nada, grita, pede uma carne assada, para que a batata que asse seja a da perna. Bá!
Me oferece uma frase que eu te ofereço metáforas. Me dá um motivo, que eu te devolvo um deboche. Me pede um abraço, chora pequeno, declara amor, me denga no chão, afaga meu ego e dispara na contra mão. Me dá, tua mão e eu te oferecço a cara e o dualismo, comeu humor recendendo a limão.
Não quero ser teu outro, nem ferir tuas verdades, mas não vem como um pretérito declarando solidão com a pitada de um simulacro amoroso. Mentira na mentira que te pego.
Te dei mil metáforas, traduz esse adivinha e veja onde me limito e onde não chego na tua vida. De metáfora, de ideologias duvidosas, de posologia desmedida de minhas apologias e eu te digo, como se resumiu minha vida, para justificar meu não.
Não, eu não ficaria bem na sua estante!
terça-feira, 10 de abril de 2012
Dos encontros desencontrados
A música era tudo que eu tinha. Fone no ouvido, óculos escuros escondendo a cara mal dormida, vontade de nem sair de casa, misturada ao anúncio de chuva para um dia inteirinho. E a buzina. E imobilidade do olhar fixo à diante. E a buzina insistente. E a ânsia de olhar o que se passava, sem ficar passada. E a buzina gritava mais alto, convocando todos os olhares para mim. Virei com calma, fingindo desdém. Mãos doloridas da bagagem pesada, a barriga roncando pela ausência do café da manhã e coberta com um frio, que se expandiu para coluna provocando aquele calafrio, ao ver o olhar, o sorriso e o convite, vamos? Quer carona?
Apontei meu percurso de contramão, na mão exata de quem quer ir seja lá pra onde for. Ele me oferecendo carona? Ele se dispondo a ir, pois exatamente nesse dia não precisaria chegar cedo ao trabalho? Ele a quem eu neguei o sorvete e lhe permiti o livro? Ele que gosta das músicas que me embalam e dos papos que me animam madurgadas inteiras. Silêncio. Vamos, preciso te contar algo e nem é tão contramão assim. Fui.
Nem era tão contramão mesmo. A carona foi rápida e prevendo o enredo contístico que a viagem anunciava, falamos rápidos e atrapalhados, queriamos contar um monte de coisas ao mesmo tempo, da música da estação à redescoberta magnífica de Calvin e Mafalda. Caramba! "Thau... trabalho longe, sem comunicação, mas quando eu chegar te ligo e vamos sair novamente para conversar".
Desci contente com o reencontro, mas sem levá-lo na cabeça, nem no peito e sem confiar na promessa dita e no pedido feito.
Hoje voltei. Calorão, estresse, cansaço mental e físico: mau humor! Desci do ônibus para pegar outro que viesse para meu lar e eis que a buzina novamente. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Meu rímel deve estar todo borrado, o pó a essa hora já evaporou e a pele suada e lustrosa, nem se fala!
Dessa vez a força do meu cansaço e minha ansiedade a lá são tomé me impeliram a olhar antes que o ruído da segunda buzinada cessasse. Era ele! Sorriso acompanhando o balançar da cabeça num gestual tão combinado que se traduzia no "eu não acredito". Nem eu, respondi com o sorriso no mesmo tom.
Entrei e nos demos um beijo longo e um abraço com desculpas mútuas pela aparência e cheiros acumulados: era fim de um dia de trabalho, estávamos autorizados. Depois a estranheza do beijo injustificável ficou pendurada no ar. Mas não fomos silêncios, nem medos... Fiquei com a impressão de termos deixado nossa tarde com as cores do fim de sábado e o cheiro delicado do início de um domingo "agaroado".
No mais, teve a tapioca, as velhas frases de Calvin, a partilha sobre Heresia, os inusitados dos filhos, a solidão do longe e do perto, o ode ao clichê e à generalização. O desejo do depois veio do lacre, transfigurado em simulacro, num sorriso, de então... tá. Te vejo mesmo amanhã? Amanhã? Por que não depois? É...
O resultado eu já, sei, mas tenho que correr que ele já está buzinando aí em baixo.
Fui...
sexta-feira, 6 de abril de 2012
364 dias de verdade!
Eis o melhor e o pior de mim: individualidade e persistência. Pouca paciência tem se incorporado. A princípio eu relutei, mas vi que essa nova característica não era com todos, mas com aqueles que vivem o primeiro de abril na alma. Vem com palavras bonitas, regalias pomposas, mas com atitudes podres, mas tão tão humanas.
É certo que eu posso ser quem eu quiser, quando eu quiser e para quem quiser. Dar um ombro amigo ou, simplesmente, negá-lo, porque meus interesses são outros e tudo aquilo que eu disse que detestava, passo a amar. E tudo aquilo que eu desenhei em discurso, deixo quieto como sempre deixei, porque não me é conveniente, porque tudo aquilo que eu disse que sou, cai no esquecimento. Tudo porque o que prevalece é quem eu de fato sou, não quem eu desejo ser. Gosto muito de uma frase de Nietzsche que diz assim "detesto que me roubem a solidão, sem em troca me oferecer verdadeira companhia". E as companhias são agradáveis até um certo tempo, até quando as almas se encontram e você percebe que nada te foi oferecido, que nada foi acrescentado e a alma outra é uma mentira.
Tenho constatado que as pessoas burilam um mundo virtual em suas vidas. Mas não são almas, e sim sorrisos de aceitação, até o vazio se reapresentar. Uma vida vazia vivida há anos e gorjetas, que não pede para sair é no mínimo alvo de desconfiança. Mas eu digo o que quero, o que não significa que sou.
Isso tem, de fato, me enojado! Como posso amar o que desprezei? Busco compreender o que vem se passando com minha cabeça e minha resposta é que vivo um processo de decepção, de medo, de reticências, de crueldade. Não consigo fazer o perfil do morde e assopra e nem dizer que sou sincera, brigar e depois dar tapinhas na costa. Não consigo! Posso, até, restabelecer laços, mas daí agir como agrande amiga de infância vai de encontro com todos os princípios que eu julgo morais e religiosos.
Detesto discrepâncias e quem me conhece mais afundo sabe o quanto até aceito umas mentiras sinceras, mas detesto, tenho horror a pessoas que são a mentira em pessoa, que se dizem uma coisa que não são, que gostam do que se quer aprovam e que se desnudam para o outro, a quem antes se quer mostravam a face.
E a minha persistência? É a de continuar sendo eu, doa a quem doer!
Tangendo a mea culpa
Ser professora de português não significa dizer que sei tudo sobre essa língua. Essa linda. Mas me dá suportes suficientes, para que eu olhe com mais rigor e menos perplexidade a algumas construções linguísticas. Bagño, renomado sociolinguista, defende a variação linguísta e discorre como ninguém sobre ela, e sem rir. Aline, adepta do ensino-aprendizagem e análise do discurso concorda plenamente com Bagño sobre os dialetos sociais, mas, em alguns casos, não consegue conter o riso. Bagño, seu lindo, me ajuda!
Mas de uma coisa já sei dizer: não sou eu que busco os erros, são eles que capturam meu olhar e minha audição. Em relação a esta é bem mais explicável o que ocorre, pois a variação linguística é realidade da oralidade, mas da escrita não. Os estudos ainda são poucos e, por essa razão, pouco se sabe da variação linguística escrita e blábláblábláblá Não é sobre isso minha postagem, só estou tentando me justificar, aliás justificar meu preconceito, que prefiro chamar de "o riso fora de mim".
Como disse, os erros me capturam, não o contrário. Quantas vezes já não passei na BR desatenta, mas estava bem atenta quando vi a placa de uma instituição de ensino com a seguinte propaganda "Venha fazer sua Pós na xxxxx em Educação à distância". Quipariuzes!!! Como é que uma empresa de educação permite um erro de crase? Aí, conhece! Vou fazer uma pós lá? Jamais. E ficarei atenta a quem já fez, somente para ter certeza se isso justifica o grau de desenvolvimento de nosso país.
Outro dia, quando estava almoçando com um amigo, entrou um senhor falando ao celular e disse "diz pra ela que vou sim levar ela em Belém, por cento e sessenta". Como a pessoa não compreendeu o valor, ele repetiu "Cento e sessenta". E mais uma vez "sessenta". Como a pessoa não compreendia o que ele disse, ele resolveu soletrar "sessenta S-E-C-E-N-T-A" É mole? E eu? Não contive o riso e soltei gargalhada, fazendo o homem suspeitar que era dele, pois recebi aquele olhar fulminate, antes de sua saída, deixando-me com meu risinho sóbrio.
E no face? Caraca, é tanta coisa que fico abismada. E não venho com a conversa fiada de que antes de olhar um erro verifico o teclado. Erro é erro e desculpa é desculpa e ponto! Todo santo dia vejo você com "Ç", com certeza, a gente e a partir escritos tudo junto, ontontem, então, brinca pira, e o verbo infinitivo não conhece o erre nesse mundo virtual. Fora os "s" escritos com "ç" ou "z". Fora as concordâncias e a regências desconexas, fora os nove fora que dá zero de português e assassinato coletivo da língua.
E placa na rua. Deparei-me há duas semanas com uma que estava escrita lindamente, porém olha o contexto "Cuidado, cão PERVERSO". Perverso é o dono que acha que esse adjetivo é mais amplo que o cão bravo e, pior, que cachorro entende de perversidade. Congelei quando li essa placa e corri feito doida na rua para fotografar.
Mas sem forças para fotografar, fiquei quando li a placa de um cursinho, ali na Magalhães Barata, "Preparatório para cuncurso público" De onde, meu bem? Da risolândia? Imagina o português que é ensinado ali, deve ser de última (literalmente).
E para finalizar o post, não as histórias, porque tenho um portfólio delas, vai a que eu mais amo:
Vinha dormindo no ônibus e acordei exatamente na frente dessa placa. O acervo de erros é para matar ou de rir ou de raiva. No meu caso, quando essa placa me capturou, rolei de rir e precise de um mês, praticamente, para conseguir fotografá-la, sem testemunhas.
Se me der coragem falo mais sobre a "armonia" o "amo" "asaí" e o "cocô gelado (eca!)"
Por hora, PESSOLHIS DESCUPAS PELOS ERRO DI PORTOGUES DESE BLOG E PO MEU NADA VELADO PRECONCETO. NA PRÓSSIMA VEZ PROMETO QUE ANTIS DE POSTA ALGU PESSO QUE ALGUMA PESOA LEA O QUE EU ESCREVI PRA NAUM PASSA MAIS VERGONHA DIANTE DAS PESOAS MUITO INSTRUIDAS QUI AXAM QUE PODE RI DE QUEM PADECE COM A EDUCASSÃO NO BRASIL!
sábado, 31 de março de 2012
A maternidade e o olhar
Nada me transformou mais na vida do que a maternidade. Ela me fez compreender que não geramos somente a vida que "sai" de nós, mas, também, a vida que temos em nós. Meu bebê nasceu e com ele nasceu a mulher Aline e a mãe Aline. E sempre que o aniversário dele se aproxima, revisito-me buscando saber se sou o que preciso ser como mãe, como mulher e se, de fato, renasci.
Lembro-me de coisas da minha infância e adolescência, que não me permitiam compreender o porquê de minha mãe passar tanto tempo longe de nós. "Preciso trabalhar para sustentar vocês" afirmativas como essa me indignavam, pois eu achava que se ela ficasse mais ao nosso lado, pouco importaria o dinheiro que ela ganhava estando tão longe de nós. Hoje sei que é uma decisão dolorosa estar longe de um filho, mas absurdamente necessária se queremos lhe proporcionar o mínimo de bem estar.
Hoje, recebo vários convites para sair, estar por aí, mas eu não sou mais só, tal qual era antes. Tenho um filho que depende e precisa de mim e de quem eu preciso demais. Tenho as contas minhas e dele. Tenho que zelar por mim e por ele. Tenho que me preocupar com o futuro meu e dele. Somos nós e não somente eu ou ele.
E nesse exercício de maternidade que está em prática desde 30/04/2006, me descobri singular e plural, me redigo quantas vezes forem necessárias. Àqueles que não compreendem que eu não posso seguir sem meu filho, só posso dizer que sigam sem mim, pois ele é a maior representação do milagre de Deus em minha vida. Foi quando mais eu me senti tocada por Ele, foi quando eu percebi que Ele estava dizendo que eu podia ser feliz, que eu podia conquistar o que quisesse, que eu faria sacrifícios aos olhos de alguns, mas que só a paz do meu coração me diria o quanto vale à pena o que eu faço quando ouvisse "maezinha, você é a melhor mãe do mundo". Não há maior recompensa!
Não há nada que explique isso. Olho com outros olhos o mundo, sou olhada com outros olhos por ele, mas tenho o Victor que me devolve sempre a paz que eu preciso e me diz sem saber o quanto precisamos nos perdoar, perdoar aos outros e estabelecer fronteiras para termos, sempre, um bom viver!
sexta-feira, 30 de março de 2012
quarta-feira, 28 de março de 2012
Como um girassol
A idade traz, além dos cabelos brancos e rugas, autojulgamentos nada brandos sobre nossa conduta social. Ao menos é o que vem acontecendo comigo. Mais do que nunca tenho me questionado sobre minhas conquistas, aquisições materiais ou não, parcerias, cultura e velhice. E se eu tenho algo conquistado. Às vezes me aasombro com o que tenho em mãos, em outras horas fico tranquila por me ver cavalgando no caminho certo.
Há tempos deixei de me deslumbrar com as coisas mundanas. Na verdade, apenas mudei o foco, pois as coisas mundanas que hoje me fascinam são outras. Mas essa transição foi calma, segura e na época e na medida certa. Não sou ranzinza, mas hoje sei bem que esse papo de viver o dia como se fosse o último é para os irresponsáveis, ou para os que tem dinheiro, ou para quem não tem contas a pagar e seu sustento e futuro não dependem de si. Aprendi há tempos que o impulso e a desmedida são inimigos da sanidade.Tenho apreço por um futuro tranquilo. Em vista disso, estou fazendo minha vida tranquilamente, sem grandes pompas ou deslumbres, mas já peneirando o que e quem eu quero por perto.
Amigos, só os que me interessam afetivamente. Pessoas, pode parecer um ato egoísta, mas preiro ter meia dúzia por perto, do que estar cercada de pessoas que não me interessam, por serem desinteressantes. Já sei que não quero nada raso, boemias, coisas mais ou menos, perspectivas passageiras. Quero o riso e a alegria, mas sem mil palhaços no salão. Não quero nada que sulgue minha paciência e que me torne intolerante. Nada de fantasmas e nem de miúdos. Não quero estar cercada por pessoas que só me acham uma coisa e que me veem como a piada, a mais divertida e a que a saída faz falta.
Quero pessoas que me deem a mão e um fôlego. Que me façam propostas para uma noite de drink e para uma transformação de vida. Quero ser lembrada pela companhia agradável, madura e alegre, que sabe que aquilo que se vive por uma noite pode nos atrasar por uma vida toda. Quero ter somas e multiplicações cultural, profissional, amorosa, fraterna.
Quero ter a minha casa no campo, "onde eu possa guardar meus amigos, meus livros e discos e nada mais". Porque tudo que é mais ou menos, não é nada. A maturidade ensina que sorriso e liberdade vão além de uma vida livre. Por isso, estou cuidando de minha plantação, para colher pessoas!!!
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